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Autora quebra convenções com sua 'literatura menor'

Narrativa engraçada marca segunda obra de ficção de Juliana Frank

Após o controverso 'Quenga de Plástico', paulistana acompanha macumbeira em 'Meu Coração de Pedra-Pomes'

RAQUEL COZER COLUNISTA DA FOLHA

"É um livro inútil", vociferam as senhoras e os senhores membros do júri para a escritora e roteirista Juliana Frank. "Não é um livro inútil. É apenas um livro desnecessário", ela se defende. "Não é um livro!", eles sentenciam.

O diálogo imaginário consta do texto de apresentação (ou texto de tentativa de explicação) de "Meu Coração de Pedra-Pomes", que marca a chegada da paulistana de 28 anos à Companhia das Letras.

É que a narrativa que se lerá nas cerca de cem páginas seguintes não se parece com nada do que se convencionou chamar de jovem literatura brasileira, seja lá o que caiba nessa convenção. Não é "alta literatura" nem tem ambição disso, não é fantasia nem juvenil, gêneros com os quais jovens autores do país vêm conquistando leitores.

Em linhas gerais, "Meu Coração de Pedra-Pomes" conta a rotina da garota Lawanda ("laúanda", ela explica), que trabalha limpando o chão de um hospital, paga as contas com serviços escusos prestados a pacientes e faz macumbas nas horas vagas.

Não haverá lição ou epifania que possa justificar o tempo do leitor dedicado a Lawanda, mas o cinismo bem-humorado da protagonista frente às adversidades mais irrelevantes (como a gargantilha dourada com as chaves de casa que sua senhoria a obriga a usar para que não volte a perdê-las) é o suficiente para fazer valer a leitura.

"Nem todos gostam do que escrevo. Entendo não quererem dessacralizar a literatura, mas tem de ter espaço para a literatura menor. É um tipo de literatura que não muda nada. Não sei por que incomoda tanto", diz Juliana.

Incomoda ao ponto de a autora ter preferido mudar de bairro após estrear em livro com "Quenga de Plástico" (7Letras, 2011), recheado de peripécias sexuais. Ela morava na Urca. Após a repercussão na vizinhança, transferiu-se para um prédio na entrada da favela do Vidigal, no Leblon, onde "ninguém tem dinheiro para se preocupar com a vida dos outros".

"Muita gente confunde as coisas. Porque eu escrevi a Quenga', achavam que eu era prostituta. Agora vão achar que sou macumbeira."

Quem a apresentou à Companhia foi o escritor Reinaldo Moraes, que em 2011 leu "Quenga", adorou e a convidou a fazer o roteiro do longa ainda inédito baseado em seu "Pornopopeia" (Objetiva).

Juliana escreveu "Meu Coração de Pedra-Pomes" em seis dias. Depois, sob orientação das editoras Marta Garcia (hoje na Cosac Naify) e Julia Bussius, fez oito versões. "É preciso um olhar de fora. O escritor fica infectado pelo texto. Se o editor diz que não dá para entender, é porque o leitor não vai entender", diz.

Roteirista desde os 20, Juliana acaba de escrever sua primeira peça, "Por Isso Fui Embora", junto com Renata Corrêa e sob direção de Regis Faria. "Minha visão distorcida do amor está toda lá", diz, sobre o triângulo envolvendo uma escritora gótica, uma patinadora e um poeta niilista.


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