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O que leva astros de Hollywood à cientologia?

Em 'A Prisão da Fé', o autor Lawrence Wright desembaraça relações de Tom Cruise, John Travolta e outros com a igreja

Figura central usada na narrativa é o cineasta Paul Haggis, ganhador do Oscar pelo filme 'Crash' e ex-cientólogo

RODRIGO SALEM DE SÃO PAULO

Xenu era um ditador intergaláctico. Há 75 milhões de anos, ele veio com sua nave para a Terra e dizimou milhões de rebeldes, vaporizados por bombas de hidrogênio.

Mas a energia desses inimigos não foi extinta. Permaneceu em nosso planeta e está em cada um de nós, causando sintomas como ansiedade e insegurança.

O relato parece uma trama de ficção científica ou um surto psicótico para alguns, mas é a base da origem da cientologia, seita criada na década de 1950 pelo escritor L. Ron Hubbard (1911""1986).

Se uma religião baseada na crença em ETs já não é suficiente para atrair a curiosidade do leitor, o americano Lawrence Wright, ganhador do Pulitzer por "O Vulto das Torres" (2007), encontrou um lado mais fascinante sobre o assunto em seu novo livro, "A Prisão da Fé": a influência da cientologia em Hollywood.

"Nos Estados Unidos, se você não gosta de uma religião, você pode criar uma do zero. É um país criativo", brinca o escritor. "E eu sempre quis compreender o que levava algumas pessoas à cientologia. O que elas esperam receber em troca? Mas faltava algo que servisse de condutor da narrativa."

Esse fio condutor surgiu em 2009, quando o diretor Paul Haggis, vencedor do Oscar por "Crash - No Limite" (2004), rompeu com a cientologia e deixou o mundo saber que ele havia sido um dos membros mais eminentes do círculo da igreja. O cineasta, que tem uma filha lésbica, bateu de frente com o líder da seita, David Miscavige, que é contrário ao casamento gay.

"Eu precisava de um personagem que as pessoas não enxergassem como um tolo", afirma Wright. "Quando Haggis, indicado três vezes ao Oscar, um homem criativo e inteligente, deixou a cientologia, encontrei meu protagonista."

A aproximação, claro, não foi fácil. O empresário do cineasta riu na cara de Wright quando ele pediu para escrever sobre a relação de Haggis com a cientologia.

"Mas depois consegui o e-mail pessoal. Nos encontramos em Nova York, mas Paul só soube que eu queria escrever sobre a Cientologia meses depois. Até lá, ele estava apenas lisonjeado pelo fato da New Yorker' [revista para qual Wright escreve] ter interesse em publicar um perfil seu", diverte-se.

Usando Haggis como guia, "A Prisão da Fé" é dividido em dois momentos. O primeiro traça um paralelo entre o cineasta e o criador da cientologia, tido como um déspota que variava entre o brilhantismo e a loucura. O segundo é uma investigação sobre as práticas da igreja e sua influência em Hollywood.

Sem medo de processos ou ameaças, ações comuns tomadas pela cientologia, Lawrence Wright escancara a relação de John Travolta com a igreja e a preocupação dela "com a possibilidade de que fosse revelada a homossexualidade de seu membro mais valioso".

"Esses fatos são conhecidos há bastante tempo e não sou o primeiro a relatá-los", diz.

TOM CRUISE E FAMÍLIA

Wright é minucioso ao detalhar a relação de Tom Cruise, hoje a face mais conhecida da cientologia, com David Miscavige, com quem o astro tem jantares íntimos regados a vinho e carne de cordeiro da Nova Zelândia na sede da organização, uma fortaleza a 90 quilômetros de Los Angeles.

Ele explica como a igreja jogou os filhos de Cruise contra a mãe, Nicole Kidman, durante o divórcio dos pais. E até como a igreja procurou uma noiva para o ator antes do casamento com Katie Holmes ""de quem separou-se em 2012.

Wright, apesar de retratar Cruise como um devoto cego (a ponto de negar a existência de trabalho semiescravo de crianças nas bases da igreja), acredita que somente o astro pode fazer a cientologia perder a aura de estranheza.

"Miscavige e Tom Cruise têm uma relação muito próxima. Sinto que Cruise é a única pessoa que pode mudar a cientologia, porque seu líder é um homem rude que controla tudo com mão de ferro, enfurnado em sua fortaleza", fala Wright, que ganhou páginas difamatórias na internet, criadas pela seita, como "lawrencewrightgoingclear.com". "Já esperava por isso", diz, rindo. "Antes de lançar o livro, compramos 40 nomes de sites, mas eles conseguiram esse."


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