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Dramas reais saem do cinema para a TV

Fenômeno irreversível, a teledramaturgia tem alcançado excelência antes restrita ao universo cinematográfico

Tramas como as de 'House of Cards' e 'Newsroom' se mostram próximas do cotidiano dos espectadores

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

Os grandes dramas da sociedade contemporânea são vistos em cores mais fortes nas telas de TV do que nas de cinema. É um fenômeno novo, mas irreversível.

Nos anos 60 e 70, o cinema inovou, aproximando-se da vida real, com personagens complexos e nada melodramáticos, impulsionado por movimentos como a "nouvelle vague" e o neorrealismo.

Agora, no século 21, especialmente por conta dos canais a cabo, voltados a públicos mais críticos, a TV e, por conta do Netflix, também a internet, estão levando essa tradição reflexiva do cinema a novos limites.

A crítica ao sistema político, que nos últimos meses levou às ruas milhares de brasileiros, não está distante, por exemplo, do conteúdo da série "House of Cards", da Netflix, estrela por Kevin Spacey.

Nela são reveladas de forma bastante realistas as manobras oportunistas e eleitoreiras que envolvem os bastidores da Casa Branca.

INVERSÃO

A série precursora desse movimento foi, sem dúvida, "Twin Peaks" (1990-1991), de David Lynch, que desconstruiu o mundo das aparências de uma pacata cidade americana usando situações um tanto surrealistas.

Em "Twin Peaks", o agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan) investigava, com métodos inusitados, o assassinato de Laura Palmer, uma jovem bela e admirada que, ao longo da série, se revelou distante do modelo de comportamento que poderia ser considerado padrão.

Com essa série, Lynch provou que era possível na TV criar um canal de reflexão sobre a cultura contemporânea, além de deixar de lado o naturalismo das imagens, o que já se havia conquistado no cinema décadas antes.

Desde então, dezenas de tramas sintonizaram melhor com os tempos atuais, caso de "Arquivo X" (1993-2002), sobre dois agentes do FBI, que investigavam fenômenos paranormais.

A novidade foi inverter os estereótipos de gênero: Dana Scully (Gilliam Anderson), forte e racional, apontava uma nova marca feminina nos anos 1990, enquanto Mulder (David Duchovny) era sensível, intuitivo e irracional, contrariando a típica imagem masculina.

Inversão de valores foi característica também da série "Família Sopranos", em que o chefão mafioso Tony Soprano (James Gandolfini), que se emocionava até com patos em sua piscina, fazia análise por conta de uma depressão.

Atualmente, séries como "The Newsroom", "House of Cards" e "Homeland" apresentam um retrato nada otimista de instituições públicas norte-americanas, seja o Congresso ou a CIA e o FBI -- e nem se distanciam tanto assim do que do que vem revelando o técnico de informática Edward Snowden. Enquanto isso, no cinema, "Wolverine" lidera bilheterias.


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