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Crítica música erudita

'Aida', de Verdi, testa os limites da ópera com tom grandioso

Soprano uruguaia Maria José Siri leva beleza e tristeza ao Theatro Municipal durante apresentação do espetáculo

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Para a cena final da ópera "Aida", Giuseppe Verdi (1813-1901) concebeu um cenário dividido em duas partes. Acima, o mundo exterior, onde reinam as tramas políticas e religiosas; abaixo, a força interior do casal apaixonado, que sucumbe em sua prisãoclaustrofóbica.

Em cartaz no Theatro Municipal até 25 de agosto, é a primeira ópera programada e regida por John Neschling desde que ele assumiu a direção artística da casa, no início deste ano.

O enclausuramento final de Aida e Radamés não é, entretanto, o único corte entre exterioridade e interioridade, uma vez que a montagem dirigida pelo italiano Marco Gandini parece enfatizar igualmente uma outra ruptura.

No processo que culmina com a cena final do segundo ato, tudo é grandioso e gigante. O amor está lá, mas deve esperar a guerra, as honras, o soar dos trompetes, a manifestação das multidões, as danças com sabor oriental, a imposição dos reis e o aval dos sacerdotes.

Em apenas quatro cenas Verdi levou ao limite o gênero da "grand opèra" francesa. É o espetacular que tanta gente busca, e que o compositor oferece para poder superar.

Depois do intervalo, porém, tudo muda. Sumiram a luz solar, os tons de verde, as fanfarras e os balés. Não há mais exotismo. O drama, agora, é constituído por dilemas da interioridade cindida entre a honra, a força das origens e, é claro, o amor.

A Orquestra Sinfônica Municipal mostrou uma sonoridade redonda e trabalhada nas cordas e uma homogeneidade nas madeiras que há muito não se via. Os baixos brasileiros Luis-Ottavio Faria (como Sacerdote) e Carlos Eduardo Marcos (como Faraó) estiveram muito bem.

O barítono inglês Anthony Michaels-Moore foi um Amonasro um tanto desigual nos registros mais graves (pelo menos na noite de estreia), mas isso não prejudicou a sua desenvoltura no papel do rei etíope (pai de Aida) em guerra contra os egípcios.

Gregory Kunde (tenor norte-americano) fez um Radamés complexo e convincente desde o início --como no límpido si bemol agudo no final da romanza do primeiro ato.

Mas, ao lado da orquestra, as duas cantoras principais foram o melhor da récita de sexta-feira. No papel de Amneris (filha do Faraó), a mezzo soprano finlandesa Tuija Knihtlä protagonizou um dos melhores momentos do espetáculo na primeira cena do quarto ato.

E a soprano uruguaia Maria José Siri era a própria Aida --de uma força calma, plácida, na medida certa da densidade dramática--, voz que encheu o teatro de beleza e tristeza no terceiro ato.

Ao revelar o caminho a ser seguido por suas tropas, Radamés perde tudo o que conquistara. É a própria ópera, no que ela teria de trivial, que desmorona em um par de versos. Mas, se não fosse isso, Verdi não poderia escrever o canto da respiração que se esvai.


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