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Música

'As gravadoras viraram clubes de futebol'

Aos 40 anos de carreira, o cearense Fagner diz que a indústria fonográfica é gerida por quem não entende de música

Cantor, que faz show em São Paulo no sábado, critica Caetano Veloso e Roberto Carlos sobre mudanças no Ecad

RODRIGO LEVINO DE SÃO PAULO

Aos 63 anos, o cantor cearense Raimundo Fagner diz que não consegue fugir do cigarro. Uns minutos de conversa bastam para perceber que nem de questões incômodas, mesmo que tenha de criticar velhos conhecidos seus.

Comemorando 40 anos de carreira, ele faz show no próximo sábado, em São Paulo (os ingressos estão esgotados há duas semanas), e até o final do ano deve lançar novo disco, que traz parceria inédita com Vinicius de Moraes.

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Folha - No mês passado, o Senado aprovou um projeto de lei que estabelece a fiscalização do Ecad. Muito disso se deveu à mobilização do grupo Procure Saber, idealizado pela empresária Paula Lavigne, e que reúne artistas como Roberto Carlos, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Qual a sua opinião a respeito?
Fagner - Naquele dia eu estava no Senado em defesa da PEC 98 [que dá imunidade tributária a CDs e DVDs produzidos no Brasil], que estava na pauta e foi substituída por essa PEC do Ecad. As pessoas me viam e achavam que eu estava junto com o grupo, mas fugi para não ser confundido.

Por que?
O que houve ali foi uma encenação patrocinada por pessoas que têm outros interesses que não são os aparentes. Por que Caetano estava lá? Por que Roberto, que nunca aparece para defender nada, estava lá? Não vou ficar especulando, mas o projeto foi aprovado sem estar claro para os artistas. Não estou defendendo o Ecad, mas pergunto: vai botar na mão do Estado? E quem fiscaliza esse Estado? E se aproveitaram de um momento em que a classe política estava toda escangalhada, né? Abriu uma brecha e eles entraram de sola.

Qual seria a melhor solução?
Cobrar do Ecad a transparência que a gente acha que ele não tem. Roupa suja se lava em casa, tinha de ser cobrado isso por nós e entre nós artistas, ora.

Você trabalhou em gravadora nos anos 1970. Como vê o mercado fonográfico atual, depois da crise que começou nos anos 1990?
Castigo vem a cavalo, né? As gravadoras se acharam muito, deu nisso. Claro que eu lamento pelo mercado que havia, mas eu vejo essas mudanças como positivas; é hora de trabalhar a criatividade. Minha vida toda foi construída dentro da Sony, da CBS, da BMG, e hoje esses lugares estão cheios de gente que não entende nada de música. As gravadoras viraram grandes clubes de futebol, onde importa o empresário e não o craque. São uns boçais.

Como você responde às críticas de que seus trabalhos nos anos 1970 são artisticamente superiores à sua obra recente?
Como eu respondo? Que bom que você gostou dos meus discos nos anos 1970! [rindo]. Não me incomodo com as críticas. Entendo quando as pessoas pedem, inclusive porque era uma fase muito mais efervescente.

Como você ouve música? Costuma fazer download?
Eu ando com uma mala de CDs para todo lugar. Gosto de ouvir as rádios AM do interior, saber das fofocas. Entendo pouco disso aí [download, compartilhamento]

Você foi amigo de Garrincha, é amigo de Zico, jogou no time de Chico Buarque. Ainda joga ou já se aposentou?
Estou no departamento médico [rindo]. Jogo, mas não com aquela volúpia de antes. Não descuido da saúde. Só não consigo fugir do cigarro. Acho que é essa vida de muito hotel, estrada, viagem. O cigarro acaba sendo um companheiro junto com o violão.

O que achou das manifestações de junho, que tomaram o país?
Eu acho que estamos avançando muito. Ninguém estava atento ao ponto crítico em que chegamos. Havia um sentimento na classe política de "posso fazer tudo", mas o povo despertou: "ei, e nós? São só vocês que dão as cartas? Não, nós é que temos as cartas". É genial.


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