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Crítica - Drama

Longa francês opõe fragilidade e força na relação de um casal

EM VEZ DE EXPLORAR DRAMA PSICOLÓGICO APÓS ACIDENTE, DIRETOR PREFERE FILMAR OS CORPOS COMO ENCAIXES, E SEXO COMO UMA FUNÇÃO VITAL

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Uma história de amor quase impossível entre uma garota fragilizada e um brutamontes. Resumido dessa maneira, "Ferrugem e Osso" poderia ser só mais um filme que trata o romance de modo pouco romântico.

As escolhas do diretor francês Jacques Audiard, porém, colocam o longa em um patamar distinto, em que a vontade da plateia de que dê tudo certo se mistura com uma boa dose de pessimismo e de mal-estar.

A irresistível Marion Cotillard faz o papel de Stéphanie, uma treinadora de parque aquático que tem as pernas amputadas após sofrer um acidente. O tourão Matthias Schoenaerts interpreta Alain, um lutador abobalhado, um cara que parece apenas um corpo com poucos neurônios funcionando dentro.

Ao lado dele está Sam, um menino de cinco anos que vive sendo escorraçado pelo pai impaciente.

Na primeira aparição de Stéphanie, em meio a uma confusão na porta de um clube noturno, "Ferrugem e Osso" afirma uma estética física, feita de corpos que mais se batem e se chocam do que se atraem.

Ao levar um soco no rosto, a personagem sangra, chora, mas segue em frente como se levar porrada não fosse raro na vida dela.

De fato, a delicadeza de sua imagem se expõe ao peso e risco constante do trabalho com as baleias no parque.

Depois que perde as pernas, sua fragilidade encontra no corpão do lutador uma mobilidade e uma resistência, um tesão e a sensação de um limite.

Em vez de explorar o drama psicológico da deficiência, Audiard prefere filmar os corpos como encaixes e o sexo como uma descarga de energia, uma função vital como outra qualquer.

Exemplo: a sigla "OP?", enviada por torpedo, serve para Stéphanie saber se Alain está operacional, como se ele fosse uma máquina.

Dessa natureza básica da atração, o filme incorpora o afeto sem precisar encher a história de sentimentalismos e se tornar banal.

Ela toma um fora e se torna mais pragmática. Ele leva um susto e acaba abrindo uma brecha. O que virá depois não interessa.

A vantagem desses efeitos está em nos fazer interessar por personagens que parecem de carne e osso e nos dar um descanso dos arquétipos de roteiro que não têm uma gota de sangue correndo em suas veias.


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