Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Performance

Atriz Regina Braga dá corpo a texto sobre degradação do mal de Alzheimer

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O conto "Desarticulações" da escritora argentina Sylvia Molloy, é um testemunho autobiográfico sobre a perda de memória de sua ex-namorada Maria Luísa, que sofria do mal de Alzheimer.

O texto segue a crescente degradação psíquica da amiga que não perdeu a faculdade da retórica nem deixou de inventar maneiras de resistir à perda da identidade, das palavras e da lógica.

O processo da decomposição é observado e comentado em uma homenagem que assume o tom de despedida.

A diretora Isabel Teixeira não traduziu o relato detalhado em um monólogo convencional. Convidou Marcos Pedroso para realizar uma instalação no MIS e Regina Braga para atuar perto da performance artística.

No início, Regina, como narradora, está deitada no chão, numa espécie de tapete branco retangular, com luzes fluorescentes dos lados. Os únicos móveis são um abajur e uma cadeira. Com voz cristalina, canta um bolero enquanto se movimenta.

Só quando começa a contar estabelece contato com o público, que fica sentado em duas fileiras de cada lado.

Enquanto a narradora do texto observa com certa distância, e muitas vezes com ironia, Regina está física e psiquicamente envolvida.

Em diversos momentos, destacados pelo som sombrio e pela luz reduzida a finas faixas que desenham linhas no chão ou nas paredes, ela está tão angustiada que também parece à beira do desmoronamento "identitário", como a amiga.

A montagem tem alguns momentos de grande beleza plástica. Sobretudo no início, quando a atriz contracena com uma projeção na parede que torna presente o fato de a amiga ter se transformado numa sombra de si mesma. Quando a projeção se repete no chão, no entanto, não tem o mesmo impacto.

A opção de escolher o corpo da narradora como suporte e meio de expressão e, assim, aproximar a atriz da condição de pessoa observada retira força do texto, cujas palavras servem como armas contra o esquecimento.

Em vez de acrescentar novas camadas por meio das escolhas estéticas, a linguagem corporal entra em confronto com as palavras e o espetáculo perde o foco central: o labirinto da nossa memória.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página