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Coleção Folha traz filme 'A Hora da Estrela'
Longa baseado no livro homônimo de Clarice Lispector chega às bancas no domingo
"Quer dizer que você é virgem mesmo, Macabéa? Também, com essa cara... Você é muito desbotada!".
Quem diz isso à protagonista de "A Hora da Estrela", o filme de Suzana Amaral que vai às bancas no domingo, dentro da Coleção Folha Grandes Livros no Cinema, é Glória. Ela é colega de trabalho de Macabéa e, na cena, rompe o código de cordialidade muito brasileiro que impede declarações tão sinceras.
Sair das páginas do romance de Clarice Lispector e ganhar a tela grande não fez mais fácil ou colorida a vida da anti-heroína.
O roteiro respeita a invisibilidade da personagem, migrante nordestina desajeitada e pobre que, na cidade grande, leva uma vida medíocre como uma péssima datilógrafa numa empresa de pequeno porte.
No filme de 1985, premiado nos festivais de Berlim, Brasília e Havana, comer cachorro-quente, beber Coca-Cola, passear de metrô e flanar pelos parques de São Paulo são as únicas pequenas alegrias da moça.
É num parque que Macabéa conhece Olímpico (José Dumont), o namorado que, não fosse a ambição, seria uma versão masculina da heroína, de tão igualmente simplório.
Fernanda Montenegro é Madame Carlota, ex-prostituta e ex-cafetina que atualmente tira a sorte nas cartas. Ela vê um futuro redentor para Macabéa, a personagem derrotada no amor, no trabalho e na vida que deu a Marcélia Cartaxo prêmios de interpretação em Berlim e Brasília.
Numa entrevista, Clarice falou da "moça tão pobre que só comia cachorro-quente": "A história não é isso só, é de uma inocência pisada. De uma miséria anônima."
"Você é um cabelo na minha sopa. Não dá vontade de comer". "Ser feia dói?". "Quem não se enfeita por si só se enjeita". Todas essas são frases do filme que reforçam o massacre da inocência preconizado por Clarice.
A Coleção Folha Grandes Livros no Cinema é composta por 25 volumes com longas-metragens que são adaptações de obras literárias.