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Crítica Autobiografia

Livro de Johnny Cash tem menos alma que canções

Memórias do cantor country, escritas com o jornalista Patrick Carr, pecam por falta de revelações e histórias de bastidores

ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA

Johnny Cash (1932-2003) escreveu algumas das canções mais arrebatadoras, tristes e confessionais da música country. Foi um homem que viveu muito, sofreu muito e pôs tudo isso em sua arte.

É uma pena que "Cash", sua autobiografia, escrita com Patrick Carr em 1997 e publicada agora no Brasil, não penetre tão fundo na alma do cantor quanto suas próprias canções.

O livro começa bem, com Cash lembrando a infância pobre em uma fazenda de algodão no Arkansas. A descrição da morte do irmão mais velho, Jack, cortado por uma serra, é de partir o coração, assim como a história do incêndio, em 1968, que matou dois filhos do amigo Roy Orbison, de quem Cash era vizinho.

"Eu disse a Roy o que pude, que o amava e que não saberia como lidar com a situação se tivesse perdido meus filhos daquela maneira." Roy retrucou: "Eu também não sei como lidar com isso."

A julgar pelos artistas e personalidades com quem Cash dividiu palcos, estúdios e camas --June Carter, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Sam Phillips, Roy Orbison, Bob Dylan-- o livro traz poucas revelações e histórias de bastidores.

Cash conta que deu a ideia a Carl Perkins de escrever "Blue Suede Shoes" depois de ver recruta do Exército usando sapatos de camurça azul.

Jura que foi o primeiro norte-americano a saber da morte de Joseph Stálin (1879-1953), ao interceptar uma mensagem russa em código Morse, quando estava num quartel na Alemanha.

O livro traz casos curiosos, como o ataque sangrento que o cantor sofreu de um avestruz, e outros mais pesados, como o assalto de que a família dele foi vítima em sua casa na Jamaica (Cash virou herói nacional ao decidir não abandonar o país depois do crime).

Cash fala bastante de seus vícios em anfetaminas, barbitúricos e álcool. Descreve, com a típica verve dramática de suas letras, acidentes de carros, brigas e internações, e narra situações em que esteve perto da morte, inclusive uma tentativa de suicídio.

"Lá por outubro de 1967, eu já tinha tido o suficiente. Não comia e nem dormia havia dias e não restava nada de mim. Eu era apenas uma lembrança distante", escreveu.

Mas o livro fala pouco de música. O cantor passa rapidamente por suas canções clássicas --"I Walk the Line", "Ring of Fire", "Man in Black"-- e não se aprofunda nas gravações de seus grandes discos.

Se você quer conhecer a fundo a alma de Johnny Cash, melhor ouvir os discos.


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