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Dança sai do palco e ganha estação de trem em São Paulo

Ocupação do espaço urbano por grupos de dançarinos está presente em festivais que começam nesta semana

Mostra que estreia hoje na capital fará apresentações de espetáculos no centro e na periferia da cidade

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Espetáculos fora da caixinha do palco dos teatros são a principal tendência apontada por duas mostras de dança que ocorrem nesta semana, uma na capital e a outra no litoral do Estado.

A 7ª Mostra do Fomento à Dança, que começa hoje em São Paulo, traz os projetos subsidiados pela Secretaria Municipal de Cultura para o centro e para a periferia, para o palco e para a rua.

A Bienal Sesc de Dança, que começa na quinta (5), vai na mesma linha: é apresentada como uma proposta para ocupar o espaço onde se dá o encontro, a cidade de Santos.

Na atual Mostra do Fomento à Dança, os espetáculos são realizados em dois formatos: apresentações na Sala Paissandu da Galeria Olido e intervenções em espaços abertos --do entorno da galeria na região central a bairros nos extremos geográficos da cidade, como Cidade Tiradentes (zona leste) e Capão Redondo (zona sul).

"O conceito da mostra deste ano foi marcado por um desejo de ir para a periferia e levar trabalhos para outros espaços. É a primeira vez que isso acontece com uma grande quantidade de espetáculos", diz o bailarino Marcus Moreno, coordenador do projeto Fomento à Dança.

O volume de apresentações foi dividido igualmente: metade dos espetáculos fica no palco da Sala Paissandu e a outra metade em ruas, saguões e corredores de centros culturais e na periferia.

PALCO MARAVILHOSO

A ideia de levar a dança para a rua começou nos anos 1960-70, nos Estados Unidos, com nomes como Trisha Brown e Merce Cuningham.

"Foi o povo que começou a experimentar outros modos de lidar com o espaço e percebeu que o contexto urbano é um palco maravilhoso", diz a bailarina e coreógrafa Mariana Muniz.

Alguns grupos e bailarinos brasileiros, incluindo Muniz, já fazem esse tipo de trabalho há algumas décadas, mas agora a ideia pipoca em inúmeros novos projetos.

O bailarino e coreógrafo Fernando Lee, que está analisando as propostas dos candidatos para o próximo edital do Fomento à Dança, também vê uma nova onda de intervenções urbanas.

"Todo mundo quer fazer. Comecei a pensar que tinha virado só moda. Não é um modismo, mas é um pouco uma onda, que vai e vem", diz Lee, que há 18 anos pesquisa e ocupa os espaços da cidade com o grupo Omstrab.

Às 7h da última sexta-feira, o grupo estava na estação Itaim Paulista da CPTM, fazendo uma intervenção do projeto "Cidade", um dos trabalhos que serão apresentados na mostra.

O aumento de grupos dançando em locais alternativos é saudado por Lee, mas com reservas.

"Usar os espaços da cidade tem um lado muito positivo, mas é preciso criar uma linguagem específica, senão a coisa fica naquilo vamos fazer na rua porque é legal'. Claro que é legal, mas tem que ter profundidade", diz Lee.

A pesquisa de linguagem traça uma linha divisória entre esses projetos, a dança de rua "espontânea" (como hip-hop) e os vídeos de flashmobs dançantes em lugares inusitados que fazem sucesso nas redes sociais.

"Isso que circula nas redes pega pelo imprevisto da situação, é feito para parecer um acidente coreográfico, mas os movimentos e a música já são muito conhecidos. Não provocam um olhar muito diferente para o corpo e o espaço, mas as pessoas se entretêm", analisa Muniz.

NOVAS RELAÇÕES

As intervenções urbanas de dança procuram modificar as relações corporais e espaciais. "O público vê, nos lugares em que circula, que é possível fazer outros tipos de movimento, que não são os funcionais, como locomoção para o trabalho, nem os de academia de ginástica. Percebe que pode fazer o movimento poético", diz Muniz

Além da qualidade artística e dos desafios técnicos, o uso de locais alternativos também tem causas pragmáticas. "Nos últimos anos, teve um grande aumento de grupos de dança, mas não de teatros para isso. Os grupos são forçados a buscar novas formas de se apresentar", diz Lee.


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