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Lixo tipo exportação

'Trash', rodado no Rio por Stephen Daldry, usa crianças 'reais' em trama sobre lixão e corrupção

KARLA MONTEIRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

O diretor Stephen Daldry, de filmes como "Billy Elliot", "As Horas" e "O Leitor", caminha pela carceragem da Polinter (Delegacia de Polícia Interestadual), na Baixada Fluminense, desativada em 2012 por superlotação.

Fala com todos ao redor. "Sou um homem feliz no momento", diz, carregando um prato de salada para um canto. É hora de almoço no set.

Daldry está filmando no Rio "Trash", baseado na obra homônima do inglês Andy Mulligan, roteirizado por Richard Curtis ("Quatro Casamentos e Um Funeral").

No elenco, os americanos Martin Sheen e Rooney Mara e os brasileiros Wagner Moura, Selton Mello, Nelson Xavier e André Ramiro. A estreia está prevista para o segundo semestre de 2014.

O diretor conta: "O filme é sobre a esperança de mudança. É sobre corrupção e pessoas lutando contra a corrupção. O espírito no Brasil está sincronizado com nossa história. O roteiro muda o tempo todo para absorver o que está acontecendo aqui".

"Trash" é um thriller, que, no livro de Mulligan, se passa num país imaginário. Três crianças trabalham num lixão. Elas encontram uma carteira. Dentro, uma chave. A chave abrirá um cofre. Dentro, há uma carta endereçada a um presidiário.

Seguindo as pistas para desvendar a trilha, os garotos desaguam num caso de corrupção, que envolve políticos, polícia, bandidos... Toda a cadeia produtiva.

Achar garotos não-atorescom a experiência da infância nas ruas foi um dos motivos que levaram Daldry e o produtor Kris Thykier a escolher o Rio como cenário.

Rickson Tevez, morador da favela da Rocinha, Eduardo Luís, de Inhaúma, e Gabriel Weinstein, da Cidade de Deus, foram selecionados entre mais de mil candidatos.

"Aqui já havia uma experiência prévia neste tipo de casting, com "Cidade de Deus" e "Cidade dos Homens". Na nossa primeira vinda ao Rio, há três anos, fomos recebidos pelo Fernando (o diretor Fernando Meirelles)", comenta Thykier.

Segundo o produtor, a viagem serviu para descobrir o Brasil: "A combinação de contar esta história do ponto de vista da cultura brasileira e a qualidade técnica do cinema aqui foi o que nos fez decidir de vez pelo Brasil", ele diz. As outras duas opções eram Índia e Filipinas.

A comparação com "Cidade de Deus" é inevitável. "Trash", porém, talvez esteja mais perto de "Quem Quer Ser um Milionário?", e Danny Boyle, rodado na Índia.

"Precisávamos de crianças reais. E aqui encontraríamos essa expertise. Mas não é Cidade de Deus'", diz Thykier.

O filme virou coprodução com a O2, de Meirelles. Captou patrocínio aqui e na Inglaterra. O produtor não revela o orçamento. Mas dá indícios do tamanho do projeto: ele e Daldry estão vivendo no Rio há mais de um ano. Há locações por toda a cidade, incluindo a construção de um lixão na zona oeste.

Na Polinter eles filmaram na quarta, com 48 figurantes que levaram de volta ao local os tempos de superlotação nas celas minúsculas.

Daldry diz que o que vai garantir a "brasilidade" do filme é o improviso dos atores: "Ouço o que as crianças têm a dizer. Elas enriquecem o roteiro com experiências sociais, religiosas, políticas, de sentimentos. O elenco adulto é incrível. Os últimos dois dias com o Nelson [Xavier] foram perfeitos. Ele é um ator generoso, de talento ímpar".

Daldry encerra o papo revelando: "Minha estadia no Rio não tem sido glamourosa. Conheço mais os lixões, as favelas e as prisões do que a praia de Ipanema".


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