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Documentário assusta, diz vencedor em Veneza

Gianfranco Rosi ganhou 1º Leão de Ouro concedido a filme de não ficção

Comparado a Michel Moore, italiano diz odiar o americano: 'É um palhaço, destruiu o gênero nos EUA'

RODRIGO SALEM ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

"Você acha que sou louco?", pergunta a este repórter o diretor italiano Gianfranco Rosi. A questão só não causa mais espanto do que a vitória de seu documentário "Sacro Gra" na luta pelo Leão de Ouro do Festival de Veneza, encerrado anteontem.

Exibido sem muito alarde, o longa sobre personagens que vivem ao longo da rodovia que circunda Roma acabou com um jejum de 15 anos da Itália em Veneza --o último a ganhar foi "Assim é Que Se Ria", em 1998.

"Sacro Gras" pincela cinco grandes figuras --de um motorista de ambulância a um hippie metido a filósofo-- e não se contenta apenas a documentar o cotidiano deles, mas interfere até mesmo em suas ações, levando alguns críticos a qualificarem a obra de docudrama ou ficção.

"Não faço ficção, faço documentário e depois o transformo. Não há nada de ficção em meu filme. Minha Roma só é diferente da Roma de Woody Allen", diz à Folha o diretor, que mora há 25 anos em Nova York e só agora fez um filme em seu país natal.

"Esse filme foi um pedido do urbanista Nicola Bassetti e como eu estava no meio de um divórcio, precisando ficar em Roma para resolver problemas particulares, aceitei."

Rosi é uma metralhadora de palavras e não mede suas opiniões, principalmente se comparam seu estilo ao de Michael Moore, diretor de "Tiros em Columbine" (2002).

"Michael Moore é um personagem e cria personagens da realidade, mas eu o odeio", dispara. "Ele faz propaganda política e é um palhaço. Moore destruiu o documentário nos Estados Unidos. Todo mundo agora quer imitá-lo."

Sem nenhum filme de apelo internacional, "Sacro Gra" pode transformar a carreira do cineasta que só deseja "transformar a realidade em poesia". "Se eu filmo esse cinzeiro de uma certa maneira, eu posso mostrá-lo como um vulcão. É a mesma coisa quando você se apaixona e enxerga a outra pessoa de uma maneira diferente."

Apesar da conversa metafórica, nem o documentário nem Rosi são frutos de uma intelectualidade difícil de aguentar. Ambos possuem um lado divertido e uma humildade "franciscana", como definiu Bernardo Bertolucci ao explicar o prêmio.

"Não quero que as pessoas tenham medo da palavra documentário. Lembro que eu estava alugando um DVD tarde da noite e uma mãe gritou para a filha: Se você não escolher qual filme levar em cinco minutos, eu vou alugar um documentário!'", brinca Rosi, que, sim, tem um pouco de "louco". Mas agora com um Leão de Ouro nas mãos.


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