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Italiano encena a decadência da beleza diante de imagem de Cristo

Diretor Romeo Castellucci leva a Porto Alegre espetáculo interrompido por religiosos na França

'Faço arte, e a arte é complicada', diz encenador; peça é destaque da próxima semana no Poa em Cena

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

O diretor italiano Romeo Castellucci não aceita o título de provocador. "Entendo essa imagem sobre mim, mas não acredito nem um pouco na provocação. Há espetáculos que tocam algum nervo, mas a provocação é algo simples demais. É uma técnica que pertence ao domínio da comunicação. Eu faço arte, e a arte é complicada", diz.

O imaginário de frequentes elementos tétricos, o uso pouco ortodoxo de símbolos religiosos e os recortes sádicos fizeram a cama. Iconoclasta por vocação, ele cria em seus espetáculos imagens como o de um sujeito que corta a língua para alimentar gatos. Ou de um velho que, amparado pelo filho, defeca pelo palco diante de uma imagem do rosto de Cristo.

Esta última descrição se refere a "Sobre o Conceito da Face no Filho de Deus", peça que a companhia do diretor, Socìetas Raffaello Sanzio, fundada por ele em 1981, apresenta a partir de quinta no festival Porto Alegre em Cena. Em um momento, um grupo de crianças joga pedras contra a imagem de Jesus.

Embora rejeite a palavra "provocação" --e ao optar por equilibrar-se com destreza nessa corda midiática--, Castellucci enfrenta reações.

A peça levada agora a Porto Alegre, por exemplo, foi atacada em sua temporada em Paris, há dois anos. Membros de um grupo cristão jogaram ovos em espectadores que chegaram ao Teatro de la Ville e também interromperam uma das sessões, subindo ao palco com cartazes.

"O público que viu o espetáculo teve uma reação extraordinária", diz Castellucci. "O público que não viu o espetáculo se horrorizou porque houve um uso político do espetáculo, algo mentiroso colocado na internet pela extrema direita, na França".

Postos de lado os enfrentamentos morais e religiosos, existe sim o reconhecimento por parte de críticos de um vasto campo a ser debatido na ordem da filosofia.

Castellucci reconhece na relação pai e filho retratada pelo espetáculo a vontade de falar sobre "a decadência da beleza, da inteligência, da dignidade do homem", algo riscado sob olhar existencial.

"Meu pai morreu de ataque cardíaco quando eu era muito jovem. O que é uma pena. A peça trata do envelhecimento do pai e o cuidado do filho, algo inscrito no vocabulário do amor. Mesmo se é nojento, se envolve excrementos, por exemplos, eu gostaria de ter tido a oportunidade de limpar meu pai."


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