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Cineasta do cotidiano japonês, Ozu tem obra relançada em DVD

Caixa com quatro longas e um documentário permite ver linha evolutiva do trabalho do diretor

Questões familiares são o tema central dos filmes reunidos em 'O Cinema de Ozu' e produzidos entre 1936 e 1957

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Faz 60 anos que entrou em cartaz "Viagem a Tóquio", talvez a mais marcante obra-prima de Yasujiro Ozu, que morreu há 50 anos, em 3 de dezembro de 1963, no dia em que completava 60 anos de idade.

Tantas datas redondas não espantam quem conhece um pouco do diretor japonês: com efeito, em seus filmes tudo parece aspirar à perfeição do círculo. Foi um dos aspectos que fascinaram o público ocidental desde que foi descoberto na Europa, nos anos 1970.

E o que se poderá notar com facilidade na caixa que está saindo no país pela Versátil, com cinco de seus filmes, o mais antigo de 1936 ("Filho Único") e o mais novo de 1957 ("Crepúsculo de Tóquio").

Dois aspectos chamam a atenção na série lançada agora. A primeira é que são cópias de boa qualidade, algumas com restauro recente.

O segundo é a possibilidade que se abre de seguir a evolução do cinema de Ozu desde seu primeiro filme sonoro, de 1936. Todos os longas da caixa têm as relações familiares como tema. Em "Filho Único", uma mãe se sacrifica para que o filho estude medicina, mas quando o visita, em Tóquio, nota que ele não é todo esse sucesso. Em "Era uma Vez um Pai", o sacrifício é paterno, mas o filho se sai bem.

É após a Segunda Guerra que os filmes de Ozu passam a acentuar esse caráter circular que tornou seu estilo tão inconfundível. Alguns aspectos já vêm de antes, como o uso da câmera baixa e quase sempre imóvel.

Nenhum é mais representativo dessa fase do que "Era uma Vez em Tóquio", a história do casal que sai da província para visitar os filhos. Mas a vida em Tóquio não é um paraíso: eles têm lá seus problemas; os pais são um incômodo para eles, e a viagem é frustrante para os pais.

Esse tipo de filme rendeu a Ozu o epíteto de "maravilhoso cineasta do cotidiano", pois é nos pequenos fatos, nas inflexões às vezes quase imperceptíveis, que esses filmes buscam seu encanto.

Também lhe rendeu, é verdade, a fama de conformista, pois cada um de seus personagens aceita a vida como ela vem: sem queixa, sem crítica ou ódio. Como se dissessem que "a vida é assim". Visão que para muitos caracteriza o pensamento zen do cineasta.

Essas visões são confrontadas por Kiju Yoshida, antigo assistente de Ozu e depois um dos cineastas mais importantes da chamada "nouvelle vague japonesa", geração rebelde que surge por volta de 1960.

Para ele, ao contrário, Ozu de conformista não tem nada. E o centro de sua empreitada consiste numa confrontação com o cinema tradicional, que considera uma arte autoritária (pois, entre outros aspectos, nos obriga a ver algo e por um tempo limitado, dirigindo olhar e impondo significados).

Ora, o que vemos em Ozu é exatamente o oposto do autoritarismo. O plano fixo permite que busquemos o sentido de ambientes e situações, em vez dele vir pronto da imagem.

Em Ozu, pode-se escolher entre o conformista e o inconformista, ou entre o criador de um mundo de essências imutáveis e o cronista de seu tempo. Cada olhar que endereçamos a essa obra grandiosa, é a nós que afeta e enriquece.


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