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Crítica - Ópera

'Don Giovanni' de Maestrini é escura e pesada

Associação com 'Drácula' muda o tom da montagem, que esconde a leveza e os contrastes da música de Mozart

O ELEMENTO CÔMICO, QUE RIDICULARIZA O DESEJO SEM LIMITE DE GIOVANNI E MESCLA OS GOSTOS MUSICAIS DE ARISTOCRATAS E CAMPONESES, FICOU DESLOCADO NESTA VERSÃO

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Uma saga crepuscular, escura e densa. Essa é a concepção do diretor italiano Pier Francesco Maestrini para a ópera "Don Giovanni" (1787), de Mozart (1756-91), em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo.

Maestrini já havia trabalhado com John Neschling (diretor artístico do teatro) em uma montagem bem-sucedida de "O Barbeiro de Sevilha" que percorreu 20 cidades brasileiras em 2010.

"Don Giovanni" --Don Juan, sedutor contumaz-- é transformado em vampiro, o que inclui citações do filme "Drácula de Bram Stoker" (1992), de Francis Ford Coppola.

Embora engenhosas, as associações parecem se referir apenas ao libreto de Lorenzo da Ponte (1749-1838), já que a música composta por Mozart passa longe do desespero romântico que, décadas mais tarde, acentuaria as cisões radicais da subjetividade.

Ponto culminante do estilo clássico, a partitura esbanja clareza, leveza e um virtuosismo sem par no trato com diferentes gêneros musicais estabelecidos, e até mesmo os momentos dramáticos são desmontados por modulações inesperadas.

O elemento cômico, que ridiculariza o desejo sem limite de Giovanni e mescla os gostos musicais de aristocratas e camponeses, ficou deslocado na versão vampiresca.

Dirigida pelo israelense Yoram David, a Sinfônica Municipal esteve em geral muito forte e pesada --com os sopros intensos--, o que retirou o impacto das vozes principais, a começar do próprio papel-título, interpretado pelo baixo-barítono Nicola Ulivieri.

Luísa Kurtz (que havia sido destaque em junho em "The Turn of the Screw" no Theatro São Pedro) esteve deslocada como Zerlina, mas Andrea Rost foi uma convincente Donna Anna, e o tenor Enea Scala fez Don Ottavio com fraseado impecável.

Davide Luciano --que interpretava Leporello-- foi substituído por Saulo Javan, por problemas de saúde. Escalado para duas récitas ao longo da semana, o brasileiro assumiu o segundo ato e tomou conta do papel.

Tudo isso mostra que Mozart precisa ser feito mais vezes em São Paulo. E também que não há como interpretar Mozart sem enfrentar riscos.


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