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Brasileiro expõe receita de doce em Bienal

Obra de Jonathas de Andrade usa preparo do 'nego bom' para mostrar situação social de trabalhadores nordestinos

Tom político e narração marcam trabalhos exibidos em Lyon, na França; mostra termina em janeiro de 2014

FABIO CYPRIANO ENVIADO ESPECIAL A LYON

"Colha as bananas ainda verdes do pé, pendure pelo umbigo do cacho e abafe em local seco para amadurecer mais rápido." É o primeiro dos 11 passos que o artista brasileiro Jonathas de Andrade apresenta na 12ª Bienal de Lyon (França), na receita que faz parte da instalação "40 Nego Bom é R$ 1".

Além de explicar como fazer o "nego bom", Andrade exibe fotos e dados biográficos de alguns dos trabalhadores que participam do processo de elaboração do doce nordestino. Com características etnográficas, que de certa forma fazem referência irônica à cordialidade do brasileiro --tal como defendia Gilberto Freyre (1900""1987)--, sua obra venceu o prêmio de jovem criador, o único da mostra, aberta no último dia 12.

Mesclando a receita culinária à situação social de trabalhadores nordestinos, "40 Nego Bom é R$ 1" de fato apresenta-se afinada com o conceito da Bienal, "Entretemps... Brusquement, et Ensuite" (Enquanto isso, de repente e então) do curador Gunnar B. Kvaran. "A Bienal de Lyon mostra como artistas contemporâneos conseguem criar novas formas de contar histórias", disse ele à Folha.

Assim, narração e formas de construção narrativa permeiam as obras dos 73 artistas selecionados pelo curador, que estão dispostas em cinco locais da cidade. Do Brasil, participam ainda outros quatro artistas: Thiago Martins de Melo, Gustavo Speridião, Paulo Nazareth e Paulo Nimer Pjota.

Questões políticas são um ponto comum entre os brasileiros, especialmente nas pinturas de Melo, que abordam, entre outros temas, o massacre de Carajás e a corrupção no Congresso Nacional. No catálogo, em um glossário sobre seu vocabulário, Melo aponta Fernando Henrique Cardoso como "o presidente dos banqueiros e da elite".

Esse viés crítico desenvolve-se em vários outros trabalhos: racismo, imperialismo, sociedade do espetáculo são temáticas recorrentes. Com uma maioria de jovens expositores, como é o caso dos brasileiros, a Bienal apresenta ainda três artistas que podem ser considerados históricos: o cinesta Alain Robbe-Grillet e o pintor Erró.

A Bienal foi criada em 1991, por Thierry Raspail, diretor do Museu de Arte Contemporânea de Lyon, um dos locais do evento. "Não vejo diferença entra a programação do museu e a da Bienal", diz Raspail, curador artístico da Bienal de Lyon. Orçada em € 8 milhões (cerca de R$ 24 milhões), ela fica aberta até 5 de janeiro de 2014.


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