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Brasileiros revisitam obra de Bordallo
Exposição reúne trabalhos em cerâmica de vinte artistas inspirados no universo delirante do português
Criações de Tunga e Regina Silveira estão na mostra que é aberta hoje no Consulado de Portugal em São Paulo
Décadas antes que o surrealismo fosse oficialmente sonhado por qualquer artista, o português Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905) produziu enormes lagostas de louça, jarras decoradas com rãs e tigelas que mimetizavam folhas de couve.
O delirante legado do lisboeta, que viveu no Brasil entre 1875 e 1879, é o ponto de partida da exposição "Bordallianos do Brasil", que abre hoje no Consulado Geral de Portugal em São Paulo.
A mostra reúne o trabalho de 20 artistas brasileiros que cozinharam peças em cerâmica com releituras do universo bordalliano. Fazem parte do time artistas como Tunga, Regina Silveira e Saint Clair Cemin, e duas estilistas, Isabela Capeto e Martha Medeiros.
Cada um foi convidado a passar dez dias na fábrica Bordallo Pinheiro, em Caldas da Rainha, região central de Portugal, estabelecimento fundado (com o nome Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha) em 1884 pelo artista português e ainda em atividade.
O desafio era criar obras usando as formas originais ou que estabelecessem uma relação direta com o trabalho do "muso" inspirador.
Entre os destaques da exposição estão os trabalhos de artistas que têm elos bastante nítidos com o universo de Bordallo, como Barrão e Tiago Carneiro da Cunha, cujas obras até parecem originais.
O mesmo acontece com a peça desenvolvida por Caetano de Almeida, que trabalha quase exclusivamente com pintura. "Não conhecia Bordallo e foi uma grande surpresa", diz o artista.
O humor de Bordallo, que foi um dos grandes caricaturistas e cartunistas de seu tempo, criador do personagem Zé-Povinho, aparece mais escancarado em trabalhos como "As Paredes Têm Ouvidos", de Marcos Chaves.
Nela, o artista adaptou um um porta-cartas no formato de um grande ouvido, original, com um fone de iPod. "Tive a oportunidade de prestar homenagem a dois gênios, Bordallo Pinheiro e Steve Jobs", expressa Chaves.
"O Colador de Cacos", de Vik Muniz, também celebra a verve bem-humorada do português, com uma obra composta por um homenzinho que recompõe um vaso despedaçado. "O colador de cacos é uma espécie de duende da memória. É uma entidade que aparece na calada da noite para consertar a maneira confusa e artificial com que montamos nossas memórias", salienta Muniz.