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O drama do teatro

Artes dramáticas fracassaram com público jovem, diz autor escocês; brasileiros discutem crise

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Expoente de geração que combateu tradições do teatro europeu, o dramaturgo escocês Anthony Neilson teme que o experimentalismo tenha sido um tiro no pé, afastando público, especialmente entre os jovens. Ele se refere, principalmente, à falta de repercussão de obras.

O autor diagnosticou a crise e falou sobre o "envelhecimento" do teatro num bate-papo na semana passada em São Paulo e, também, em palestra na última terça no teatro do Sesi. Na opinião de Neilson, as artes dramáticas, ao lado de outros campos de expressão, não conseguiram usar a tecnologia para gerar debates internacionais.

Hoje, ele compara, é fácil ter acesso a músicas pela internet, filmes são lançados em cópias, a literatura também criou plataformas digitais. Mas o teatro, artesanal por natureza, patina isolado em nichos de especialistas e pequenas plateias.

"É possível transmitir peças por internet, mas quem quer ver um espetáculo pelo computador? Não estamos atingindo os jovens, e isso me preocupa", disse a uma plateia repleta de dramaturgos.

"É importante ter o background da música, ser entretenimento. Não estamos nos comunicando da forma correta. Estamos fazendo peças de três horas, e isso nem sempre é preciso. Quem vê duas peças chatas de três horas não volta. A sensação é de ter sido molestado", brincou.

Menos preocupado com o número de cabeças em suas plateias do que com um possível esvaziamento do experimentalismo, Antunes Filho tem opinião similar à de Neilson. "O teatro estava atrasado, e hoje está ainda mais."

Para o diretor, a incansável busca pelo estilhaçamento do drama --o afastamento do objetivo puro e simples de contar uma história-- caiu em um cenário vazio. "Essa calamidade pós-dramática insuportável, chata, aborrecida, provou-se que não dá mais", diz. Antunes brada contra à proliferação de cartilhas que incentivaram excessos do teatro autorreferencial.

CONTRA A REALEZA

Neilson pertence a uma geração que tentou aproximação com jovens por meio da renovação de linguagem e de proposições temáticas ""e admite não ter tido tanto êxito.

Fez parte do chamado In-Yer-Face, grupo que abrigou, entre outros nomes, Mark Ravenhill, autor do niilista "Shopping and Fucking", com seus personagens jovens sem perspectiva. E também Sarah Kane, dramaturga que se matou em 1999, aos 28 anos, e tornou-se mito por sua peça "4.48 Psychosis", sobre depressão.

Negar o passado e as tradições do teatro inglês ("ainda associado às instituições reais do país", diz o autor) também estava na lista de deveres. Só que, dez anos depois, a crise permanece.

"Interatividade hoje é a palavra de ordem, mas, no teatro, ela assusta", conclui.

Pesquisa de julho do Datafolha mostra que, em São Paulo, quem mais vai ao teatro tem entre 16 e 40 anos. Mas o número de quem não frequenta é alto em todas as faixas etárias.

João Fonseca, diretor de peças como "Rock in Rio" e "Cazuza", acha que o teatro tem "dificuldade para entrar na casa das pessoas, como faz a música". Também é uma arte que não se associou a um tipo específico de vida social. "Jovens procuram programas onde podem paquerar."

Leonardo Moreira (autor e diretor da nova geração, vencedor de dois prêmios Shell) diz que, na aproximação, não pode haver "olhar paternalista". "Não dá para nivelar por baixo. E não podemos menosprezar a capacidade de entendimento dos jovens."


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