Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Obra explora jogos de poder e guerra de sexos

Coletânea lançada por Cosac Naify reúne seis textos do dramaturgo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha

Livro traz peças com temáticas públicas, caso de 'Rancor', e íntimas; duas histórias são inéditas nos palcos

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

O que a dramaturgia é capaz de sintetizar no intervalo de um banho? Que ele dure 15, 20 minutos. Que dure meia hora. Na peça "Sonho de Núpcias", de Otavio Frias Filho, a ausência de um personagem em cena, calculada no tempo de uma chuveirada, provoca a sensação de instabilidade no terreno movediço da cena seguinte.

O que aconteceu, e o que o personagem constata ao voltar? Não há spoiler que dê conta da questão. O abismo que o devora em seu retorno é o mesmo que o faz mergulhar no relevo onírico desenhado entre o erotismo e a sensação de impotência.

Há outras vertigens similares nos textos teatrais reunidos no livro "Cinco Peças e uma Farsa", que o dramaturgo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, está lançando pela Cosac Naify.

As mulheres, neste universo criado entre uma obra e outra, apresentam-se frequentemente submissas para depois reverterem suas fragilidades em mecanismo de domínio.

"Utilidades Domésticas" atinge, dentro deste contexto, um ponto alto do protagonismo feminino: apresenta um romance lésbico enfrentando adversidades impostas por uma cultura sexista e homofóbica, com final excepcionalmente feliz.

Mais políticas que as outras, as duas primeiras peças da coletânea, "Tutankáton" (iniciada em 1990) e "Rancor" (que estreou em 1993), não focam a guerra dos sexos comprimida nos textos que as seguem, embora haja em ambas o embrião deste imaginário. Na sequência em que as peças aparecem no livro, há também "um gradiente que vai da temática pública ou política para os temas mais domésticos ou íntimos", contextualiza o dramaturgo.

Assim, "Tutankáton" põe no centro da cena um faraó que instaura no Egito, no lugar de religião politeísta, o monoteísmo.

Escrita seis meses após a queda do Muro de Berlim, a peça se apropria da estrutura da tragédia clássica para abarcar o sentido das revoluções e contrarrevoluções. Os homens estão no poder, mas há uma espécie de Lady Macbeth, mulher do governante, por trás do pano. Também há a figura da vidente, poderosa.

A mulher mais boba da coletânea talvez esteja em "Rancor", tomando parte da trama como uma bola de tênis ricocheteando no mundo dos machos, que por sua vez disputam seus territórios no campo da intelectualidade --em raros momentos, da força física.

Produzidas em período em que a dramaturgia brasileira passava pelo estilhaçamento de estilos e metodologias com curiosidade excepcional pelos processos de produção colaborativos, as peças de Frias representam um campo que permanece latente, o do autor solitário.

Mas não totalmente solitário. Há, neste livro, uma peça criada sob a encomenda de um diretor, Maurício Paroni de Castro. "Breve História de uma Perversão Sexual" foi, além disso, escrita a quatro mãos, com Marcelo Coelho, colunista da Folha, e pensada em 2004 junto à proposta de ocupar as dependências de um clube fetichista de São Paulo.

Dos seis trabalhos, apenas "Tutankáton" e "Utilidades Domésticas" não foram encenados. Há ainda, nos textos, personagens arquitetados para atores específicos: Leon, de "Rancor", para Bete Coelho, e Morelli, de "Sonho de Núpcias", para Renato Borghi. São papéis de fato encarnados no palco por esses dois intérpretes.

O livro, em tempo, não traz a obra dramatúrgica completa de Frias. Não incluiu "Don Juan", "Pavilhão Japonês" e a inconclusa "Em Legítima Defesa".

"Cinco Peças e uma Farsa" segue outras publicações do autor, entre elas as coletâneas de ensaios "Queda Livre - Ensaios de Risco" (Companhia das Letras, 2003) e "De Ponta-Cabeça" (Editora 34, 2000).


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página