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Flipside acerta na escalação dos debates

Irmão da Flip, novo festival literário britânico tem elogios a brasileiros por autores como Ian McEwan e Will Self

Além de mesas atrativas de Bernardo Carvalho e Milton Hatoum, evento também usa música e futebol em sua receita

CASSIANO ELEK MACHADO ENVIADO ESPECIAL A SNAPE MALTINGS

Estava escuro no teatro de Snape Maltings, mas Ian McEwan não parava de fazer anotações. No palco, Adriana Calcanhotto se apresentava ao violão. E McEwan usava sua caneta, buscando espaços vazios num folheto com versões das canções da gaúcha.

"O sr. vai fazer uma resenha do show?", provocou a Folha. "Não, adoraria. A música é ótima. Mas estou escrevendo meu novo romance."

Um dos principais autores ingleses, McEwan estava no vilarejo de Snape Maltings, no sudeste de seu país, para participar da primeira edição da Flipside, festival de literatura (e música) brasileira que teve sua primeira edição neste final de semana.

Mais cedo, no mesmo sábado, o romancista havia participado do debate inaugural do evento, criado pela inglesa Liz Calder, mãe de outra festa literária, a Flip, de Paraty.

Na Flipside, McEwan cruzara palavras com o colega de ofício Milton Hatoum. E em meio a uma saborosa conversa, o escritor amazonense havia dito, antes de uma sessão de autógrafos, que "todo fantasma inspira escritores, mas às vezes ele nos abandona e aí temos de trabalhar".

O próximo romance de McEwan não será sobre fantasmas ou cantoras gaúchas. Ele está trabalhando num livro sobre um juiz incumbido de tomar uma decisão que envolve a transfusão de sangue de um paciente testemunha de Jeová, religião que não aceita esse procedimento médico.

Enquanto busca inspiração (e trabalha, até no escuro), andou fuçando um pouco de literatura brasileira, por conta do festival. Elogiou, por exemplo, a coletânea "Other Carnivals", lançada na Flipside pela editora local Full Circle, com contos de brasileiros contemporâneos. "A história Lost Time', de Tatiana Salem Levy, é muito bem narrada", disse.

Outro escritor inglês do primeiro time, Will Self também andou lendo e elogiando um brasileiro, o seu companheiro de debate na Flipside Bernardo Carvalho. Self não é muito de afagos. Minutos antes de falar bem do romance "Nove Noites", de Carvalho, destruiu o livro "Brazil", do americano John Updike.

Showman, o britânico fez, tal como na Flip, uma leitura teatral e memorável de um trecho da obra mais recente, "Umbrella" (Guarda-chuva).

A obra é protagonizada por uma mulher. Quando o mediador Ángel Gurría-Quintana perguntou sobre a voz feminina na obra de Self o escritor grandalhão disse: "Não sou muito masculino. Odeio futebol, odeio guerra, odeio armas, odeio barbas, pênis, testículos".

Os "encounters" Hatoum x McEwan e Self x Carvalho foram os pontos altos da Flipside, mas não os únicos bons momentos do evento.

Aberto por uma instrutiva e emocionada aula-show sobre bossa nova, a cargo do trio José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski e Paula Morelenbaum, o festival teve como outros destaques uma conversa bastante marcada por política com Patrícia Melo, Ana Maria Machado e o inglês Misha Glenny, uma leitura comovente de poemas de Elizabeth Bishop, com a escocesa Ali Smith, um curioso monólogo de Ferréz sobre seus problemas com os vizinhos, no Capão Redondo, e um bate-papo divertido sobre futebol com o jornalista inglês Alex Bellos.

As plateias não estavam abarrotadas, como na Flip, mas os teatros do complexo de Snape Maltings, antigas instalações fabris de tijolinho, que lembram o Sesc Pompeia, tiveram bom público, com mais de 200 pessoas nos eventos principais.

Até a desajeitada apresentação da Suffolk Samba School, escola de samba local com 20 anos de tradição, agradou. Os ingleses requebraram e prometem voltar a gingar, com mais ritmo, em outubro do ano que vem.


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