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Crítica drama

Em tom sombrio, montagem critica inclinação americana para a guerra

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A peça "Nossa Cidade" aborda nossa incompreensão da existência. Relaciona o ciclo de vida em um pequeno povoado americano com o tempo eterno. Em sua montagem, Antunes Filho revela uma dimensão mais sombria deste clássico: ao impor sua versão de democracia, os americanos estão presos num ciclo de destruição.

Logo, o personagem que guia pelo texto, o diretor de cena, é um aleijado de guerra. Suas falas trazem o texto de 1938 para os dias atuais e diversas cenas são estendidas para revelar o lado obscuro dos Estados Unidos: o genocídio dos índios, o capitalismo selvagem, a inclinação para a guerra e a autocomplacência.

Embora o espetáculo siga de forma fiel a proposta minimalista do original --quase nenhuma cenografia e gestos pantomímicos em vez do uso de adereços-- dramatiza substancialmente o texto épico. Seja por meio de entradas teatrais, seja através da eliminação do segundo ato.

Este corte profundo exclui um evento central, o casamento do par romântico. Dá ênfase à personagem feminina Emily que, já no primeiro ato, ganha espessura como única sonhadora.

No terceiro ato ela é substancial para a reinterpretação em curso. Morta no parto, Emily pede ao diretor de cena para voltar à vida. De volta, ela se desespera, ao contrário da personagem de Wilder, que observa com serenidade a cegueira dos vivos. Seu desespero deriva, como se pode deduzir, da constante destruição da vida pelo povo americano.

O conceito, mesmo que radical, é convincente e é interpretado pelo elenco com atuações primorosas.

Não se trata aqui de uma leitura antiamericana. Antunes disseca, de fato, nas entranhas de um texto canônico, um aspecto da alma americana que o próprio Wilder procurava disfarçar.


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