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Teatro

Peça joga luz nas sombras de Genet

Submundo homoerótico e violento do autor francês é retratado em espetáculo que estreia hoje

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É negro o feixe de luz que ilumina o Jean Genet apresentado no espetáculo "Genet: o Poeta Ladrão", cuja estreia ocorre hoje.

A peça joga luz nos aspectos mais obscuros da personalidade desse autor francês que chegou a ser considerado por Sartre o maior escritor da era moderna.

São sublinhadas sobretudo as sombras de Genet (1919-1986), seu submundo homoerótico e violento, regido pela prostituição, pelas drogas e pelas forças ocultas do homem primitivo. "Não quis retratar o grande autor, mas o homem que não tem medo de seu desejo. Genet vai ao inferno e nos traz o esperma, o gozo, o suor, a saliva. Não sabemos mais o que é isso. Nos tornamos assépticos", diz o diretor Sergio Ferrara.

A peça, protagonizada por Ricardo Gelli, tem como base a autobiografia de Genet, "Diário de um Ladrão", e "Genet: uma Biografia", principal publicação sobre a vida do autor, escrita por Edmund White. Personagens extraídos de peças como "Nossa Senhora das Flores" também surgem em cena.

"Não sou totalmente fiel à vida de Genet. Ele mesmo espalhava diferentes histórias de suas vivências, construindo seu próprio mito", avisa o dramaturgo Zen Salles, que faz sua segunda parceria com Ferrara --"Pororoca", seu texto de estreia, também foi encenado pelo diretor.

Salles situou "Genet: o Poeta Ladrão" em um dos períodos em que o autor francês ficou preso. "Encarcerado, ele criava para se excitar e conseguir sobreviver à solitária", conta o dramaturgo.

É na prisão que o espetáculo se desenvolve. De lá, Genet tem devaneios e rememora passagens de sua vida marginal. As cenas, fragmentadas, buscam fugir do didatismo, apresentar sensações e imagens simbólicas do mundo de prazeres do escritor.

As evocações não seguem ordem cronológica. Relembram sobretudo a juventude, mas abarcam também sua vinda ao Brasil, em 1969.

O autor viaja ao país para a estreia da histórica montagem brasileira de "O Balcão", dirigida por Victor Garcia. Salles faz um paralelo entre o conteúdo revolucionário da obra e a história de vida de Genet, avessa aos padrões impostos pela sociedade. "A liberdade é uma maldição possível, que o homem tem que carregar pela vida afora", prega o francês em cena.

"Alguns dirão que o recorte da peça reduz Genet. Não tem problema. Para mim, o espetáculo toca no cerne da obra do autor, que foi uma das primeiras pessoas a colocar a sexualidade na pauta, e de forma feroz", diz Ferrara.


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