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 37ª Mostra

Bressane filma relação entre professora e aluno

Em 'Educação Sentimental', diretor evoca atração entre uma deusa e um mortal

Filme recria mito grego por meio da tensão misteriosa e erótica entre uma mulher solitária e um jovem

MARCO RODRIGO ALMEIDA DE SÃO PAULO

Os filmes de Julio Bressane, 67, surpreendem primeiramente pela variedade na escolha dos temas. Nos últimos anos, ele retratou o mito das Três Graças, o filósofo alemão Nietzsche, a rainha Cleópatra e dois contos de Machado de Assis.

"Educação Sentimental", seu mais recente trabalho, evoca a lenda grega de Endimião, sobre um mortal que é alvo do amor da deusa da Lua. No longa, o mito ganha corpo na misteriosa relação entre uma professora solitária (Josie Antello)e um jovem (Bernardo Marinho).

O filme também remete ao célebre romance homônimo do francês Gustave Flaubert e a "histórias da antiguidade, que tratam de aprender a domar os sentimentos", diz o diretor. "É uma coisa um pouco anacrônica mesmo, fora do mapa. Uma educação voltada aos sentimentos não faz parte da nossa época."

Desse anacronismo resulta o tom abstrato do filme, situado em um casarão de um Rio perdido no tempo.

Resumindo em poucas linhas, o enredo trata de uma mulher que tenta repassar seu vasto conhecimento a um aluno. Durante as aulas particulares, que englobam literatura, artes plásticas, filosofia e cinema, floresce entre os dois uma tensão erótica.

"É uma sedução às avessas, você apresenta um repertório que o outro ignora. Ela percebe no garoto o dom da escuta e acredita que algo possa surgir dele", diz Bressane.

O garoto também poderia ser interpretado como um reflexo do espectador de cinema. Nos filmes de Bressane, não há um enredo propriamente dito, que caminha de forma linear do início ao fim.

O público precisa remontar a história, ligar os pontos e preencher os vácuos para encontrar seu sentido. Enfim, deixar-se seduzir, com olhos e ouvidos bem atentos, tal qual o aluno diante da professora, mesmo que nem sempre compreendendo tudo.

Bressane despontou como um dos principais diretores do cinema brasileiro no final dos anos 1960, com "Cara a Cara" e "Matou a Família e Foi ao Cinema". Já produziu, entre curtas e longas, quase 40 filmes, todos banhados em uma imensa erudição que se traduz em referências a outros filmes, livros, músicas e pinturas.

Os rótulos de "hermético" e "filme-cabeça" acompanham seus trabalhos desde o início. "A Erva do Rato" (2009), seu longa anterior, foi lançado em apenas três salas e teve cerca de 3.500 espectadores.

"Essa questão de público, de bilheteria, é um desserviço à cultura. Não existe o público, o que existe são as pessoas. Se você é capaz de fazer e sentir um filme, deve pensar que outras pessoas também são", afirma o diretor.


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