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 37ª Mostra

'Todos temos cabelo ruim', diz diretora de filme venezuelano

'Pelo Malo' narra trama de garoto que deseja alisar cachos e faz denúncia contra intolerância

Ganhador do maior prêmio do festival de San Sebastián, filme está em cartaz na Mostra de São Paulo

JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO

Para narrar, em seu terceiro longa, uma história sobre intolerância, a venezuelana Mariana Rondón utilizou os olhares dos personagens. Em "Pelo Malo" eles são um filtro para que o espectador enxergue as consequências de pontos de vista divergentes.

A produção, ganhadora no mês passado da Concha de Oro, maior prêmio do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, é exibida em São Paulo na 37ª Mostra Internacional de Cinema.

A história gira em torno de Junior, garoto que deseja alisar o "cabelo ruim" do título. Se Junior parece odiar seu reflexo no espelho, sua mãe, Marta, enxerga a insatisfação do menino como uma ameaça a sua masculinidade.

A trama se assemelha, no Brasil, à mais recente controvérsia em torno de "Amor à Vida", novela global de Walcyr Carrasco. No folhetim, o garoto Jayminho, que tem cabelo estilo black power, é adotado por um casal gay. Ao pedir que o ator cortasse o cabelo, Carrasco foi acusado nas redes sociais de racismo.

"De alguma maneira, todos nós temos cabelo ruim'", diz Rondón à Folha. "No Brasil e na Venezuela, países com povos misturados, todos podemos nos identificar com algum tipo de intolerância."

Em sequência do começo do filme, Junior e uma amiga observam os vizinhos e brincam de adivinhação: um descreve o que vê, e o outro tenta encontrar a imagem correspondente entre as janelas dos edifícios multifamiliares de Caracas, concretização da "cidade utópica" concebida pelo arquiteto Le Corbusier (1887-1965) nos anos 1950.

Roupas molhadas penduradas no varal, uma mulher fumando cigarro, uma menina andando de patins e um grafite que diz "te amo" são algumas das cenas encontradas pelas crianças, que criam histórias para o que veem.

Segundo Rondón, a cena antecipa o restante do filme."Desde o início, está marcado que o longa é sobre a maneira como se enxerga e se imagina o outro."

A diretora, que também é artista plástica, convidou o espectador a fazer parte do "jogo" na instalação "Superbloque", em que o visitante analisa o que vê nas janelas dos edifícios da capital venezuelana. Ela diz que deseja trazer a exposição ao Brasil para acompanhar o lançamento do filme --a produção será distribuída pela Esfera Filmes e deve estrear em abril.

Apesar de ainda não haver entrado em cartaz na Venezuela, o filme chegou a repercutir no país. Gravado na época da doença do presidente Hugo Chávez, morto em março deste ano, "Pelo Malo" foi visto, sobretudo na Espanha, como denúncia da violência e do caos em Caracas.

"Quis fazer, de certa forma, um registro documental", afirma Rondón. A diretora conta que está "fugindo" da polêmica. "A Venezuela é um país muito polarizado, então qualquer comentário serve para causar uma discussão."


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