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Crítica - Biografia

Obra recupera memória de cantores esquecidos

Voltada para iniciantes, 'Os Reis da Voz' faz refogado de fatos conhecidos e não cumpre promessa feita pelo título

RUY CASTRO COLUNISTA DA FOLHA

Francisco Alves foi o maior cantor brasileiro de seu tempo --o que mais gravou e vendeu discos, o mais influente, mais rico etc. Orlando Silva, por sua vez, foi o melhor (e talvez do mundo) --mas só por um curto período de sua carreira, entre 1935 e 1942, antes que "a morfina, o álcool e uma mulher" o destruíssem.

Já Silvio Caldas foi o mais durável: em 70 anos de microfone, sua voz, da qual ele se "despediu" 20 ou 30 vezes, nunca o abandonou. E Mário Reis, quem não o admirava?

Inventou a bossa na música brasileira, fez dupla com Chico Alves e, grã-fino como ele só, aposentou-se prematuramente. Você sabia?

Rápidas pinceladas poderiam ser dadas também a respeito de Vicente Celestino, Moreira da Silva, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto e outros grandes cantores brasileiros perfilados em "Os Reis da Voz", de Ronaldo Conde Aguiar.

O livro presta um serviço: põe em letra de fôrma 15 artistas que, de 1930 a 1960, deslumbraram a cena nacional e, agora, quase todos mortos, caminham para o completo esquecimento.

Ao contrário dos Estados Unidos, da França e da Argentina, o Brasil é ingrato para com seus velhos ídolos --tente comprar, hoje, CDs de muitos dos cantores citados.

Tendo em vista um público talvez disposto a se iniciar nessa fase da música brasileira, o autor dispensa a busca de informações novas e faz um refogado do que se escreveu a respeito. Na verdade, vale-se mais de biografias já publicadas do que indica a bibliografia.

O texto cita liberalmente fatos a custo levantados por esses biógrafos e, às vezes, joga uns contra os outros, apenas para concluir que "nada disso importa" --mas importou para que o autor encorpasse tal ou qual perfil.

Há uma profusão de "há quem diga" e "há quem afirme", ao que se segue uma afirmação vaga e sem crédito --quem é "há"?

Pena também que, partindo de uma ideia tão interessante, a promessa do título não seja cumprida. O texto não revela claramente o que tornou aqueles homens os "reis da voz".

Passa batido pelo estilo de cantar e pela evolução dos talentos vocais da maioria deles e, em vez disso, concede grande espaço à trajetória de seus pais ou avós --algo indispensável numa biografia, mas impróprio para os limites de um perfil.

O livro se sai melhor quando trata de cantores ainda menos estudados, como Carlos Galhardo, Cyro Monteiro, Jorge Goulart, Tito Madi, Germano Mathias, todos, um dia, merecedores de boas biografias --que, pela amostra, o autor poderia escrever.


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