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37ª Mostra
Episódios de 'Centro Histórico' despertam reflexão histórica
Curtas tratam de enredos relacionados à cidade portuguesa de Guimarães
A foto é de um imenso refeitório de uma fábrica de tecidos. Em enormes mesas, operários olham para a câmera. Lenços na cabeça, olhares perdidos, rostos cansados. Algumas mulheres sorriem; homens trazem preocupação na face. Há crianças abocanhando algum alimento.
A fábrica, fundada no século 19, não existe mais. Sobrou um prédio abandonado com vidraças quebradas --e a fotografia. Antigos trabalhadores observam a imagem e relembram a dura rotina.
Um mostra nos dedos as marcas de acidentes nas máquinas. Outra lembra como amamentava os filhos em minúsculos intervalos. Alguns contam como quiseram escapar da extenuante labuta.
Com sensibilidade, o cineasta Victor Erice expõe da vida desses operários em "Vidros Partidos", um dos belos episódios de "Centro Histórico". O filme reúne quatro curtas em torno da cidade de Guimarães, norte de Portugal.
O primeiro é "O Tasqueiro", do finlandês Aki Kaurismäki, que trata de um dia de um taberneiro. Numa encenação quase teatral, o personagem parece perdido no tempo. Amarrado à rotina de fazer o tradicional caldo verde, enxerga seu espaço se estreitar no mundo competitivo. Resta o nostálgico fado.
A sequência é de "Sweet Exorcist/Lamento da Vida Jovem", de Pedro Costa. Tenso e às vezes claustrofóbico, o filme trata do delírio de um combatente das guerras de libertação na África nos anos 1970, quando Portugal buscava uma nova identidade.
Boa parte do curta se passa dentro de um frio elevador de hospital, onde há uma figura militar. Imagem semelhante aparece no último episódio da coletânea, "O Conquistador Conquistado", do premiado veterano português Manoel de Oliveira.
No curta, turistas recebem informações sobre as origens e os tempos áureos de Portugal durante visita ao centro da cidade de Guimarães. Lá, a turba é reunida pelo guia sob o duro olhar da estátua de D. Afonso Henriques, fundador do reino português.
No conjunto, os quatro díspares episódios de "Centro Histórico" são um convite a reflexões sobre história. Seus personagens, desgarrados da dinâmica de um centro de poder, buscam suas identidades --na memória, na loucura, na frustração. E Guimarães é só um ponto de partida.
