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Cine Odisseia
De olhos bem abertos
PERI PANE
Com certeza Kubrick teve acesso ao misterioso monolito. Não está entendendo?
Nunca consegui assistir a "2001 "" Uma Odisseia no Espaço" até o fim. Sempre durmo no meio (pronto, falei). Mas nesta Mostra teria a chance de ver o filme na tela grande pela primeira vez e reparar essa falta.
Escolhi a sessão do CineSesc, pelo tamanho da sala e pelo horário, 16h50. Vai ter pouca gente, pensei. Tudo ia suave na nave até que ouço a voz cínica de HAL 9000: "Lamento dizer, Peri, mas os ingressos estão esgotados".
Não iria desistir fácil assim. A fila subia a rua Augusta. Percorri os grupinhos perguntando se alguém tinha ingresso sobrando. Encontrei um rapaz com um bilhete de estudante extra. Tirei da carteira exatos R$ 6,50. Ele fez um abatimento de R$ 1, e eu era o argonauta solitário mais feliz da Mostra.
"Trouxe a carteirinha?", perguntou a bilheteira. Não sou estudante. Suei frio. O rapaz na minha frente mostrou a carteirinha dele e eu fiquei com cara de paisagem. Na confusão da fila, ela pulou minha vez. Ufa! A viagem para Júpiter estava de pé.
Avistei um amigo músico, o Moita, com cara de desespero. Estava sem ingresso. A fila andou e deixei Moita flutuando sem rumo no saguão do CineSesc.
Consegui um bom lugar entre duas moças. Uma delas me tranquilizou dizendo que todos os seus amigos já dormiram vendo "2001". A outra disse que, se eu dormisse, levaria uma cotovelada.
E lá estavam as 328 pessoas de olhos bem abertos em viagem alucinante pelo espaço-tempo. É genial! Como eu dormi das outras vezes? A moça do meu lado bem que deu uma cochiladinha... Mas deveria ser proibido ver esse filme na televisão!
Como uma produção futurista de 1968 pode continuar tão atual, mesmo esteticamente? Com certeza Kubrick teve acesso ao misterioso monolito. Não está entendendo? Anote a dica: dia 29, às 21h10, tem "2001" no Cinemark Shopping Cidade Jardim.
No fim da sessão, encontrei Moita radiante. Ele entrou na sala sem ingresso, com sua técnica infalível de ficar invisível. Como diria o poeta arrudA: "o que não é pra já / talvez seja pra Júpiter".
