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  37ª mostra

Filme apresenta Fellini como 'mentiroso'

Obra de Ettore Scola mostra episódios da vida do diretor de 'Oito e Meio' em que real e imaginário se confundem

'Que Estranho Chamar-se Federico' será exibido em SP na quinta, data que marca os 20 anos da morte do gênio

EUCLIDES SANTOS MENDES EDITOR DO PAINEL DO LEITOR

"É o maior Pinóquio do cinema italiano", diz, sobre Fellini, o narrador de "Que Estranho Chamar-se Federico", novo filme de Ettore Scola que será exibido na Mostra de Cinema de São Paulo na próxima quinta (data que marca os 20 anos da morte de Fellini).

O hábito de ser um fabulador de si próprio (com histórias como a da fuga com um circo quando criança) deu a Fellini fama de mentiroso, mas também fez dele um inventor de tipos e situações que beiram a fronteira entre sonho e realidade.

Os episódios biográficos contados por Fellini ao longo da sua vida, reais ou imaginários, confundem jornalistas e pesquisadores de sua obra, mas contribuíram para torná-lo um personagem cuja vida daria um filme.

Eis a conclusão que ajudou Scola a conceber o longa (após dez anos sem filmar). No filme, ele conta, de um ponto de vista pessoal, a trajetória do amigo que conhecera na juventude, em Roma.

Ao narrar passagens da vida do amigo, Scola, 82, também fala de si mesmo, evocando lembranças da infância --quando lia para o avô histórias criadas por um ainda anônimo Federico para o popular periódico humorístico "Marc'Aurelio".

Recém-chegado à capital italiana no final dos anos 1940, Scola (nascido em Trevico, no sul da Itália) era desenhista e queria trabalhar no "Marc'Aurelio", no qual, dez anos antes, Fellini (nascido em Rimini, no centro-norte do país) também iniciara sua vida profissional como desenhista. Foi a partir daí que se conheceram, tornando-se amigos e colegas.

Fellini e Scola desenvolveram o gosto por desenhar personagens de seus filmes antes de recriá-los na tela cinematográfica. Há outras similaridades entre eles: não sabiam nadar e colaboraram, como corroteiristas, em filmes cômicos no início do seu aprendizado cinematográfico, além da predileção pela ironia.

FICÇÃO E REALIDADE

"Que Estranho Chamar-se Federico" organiza-se como um misto de ficção e documentário sobre a trajetória de Fellini, que surge, no início da fita, já consagrado, sentado numa cadeira de diretor, sozinho diante do mar e de costas para a câmera.

Em outra cena, aparece como um jovem provinciano, que desembarca numa estação ferroviária romana (a cena é claramente uma referência ao alter ego felliniano Moraldo, cuja chegada de trem à capital é, de certa maneira, recriada por Fellini no seu filme "Roma", de 1972).

O filme narra, ainda, a insistência de Scola para que o amigo reencenasse, no seu longa "Nós que nos Amávamos Tanto" (1974), a filmagem da hoje antológica cena em que Anita Ekberg e Marcello Mastroianni entram na Fontana di Trevi, em "A Doce Vida" (1960). O filme de Scola mostra-se, portanto, com uma estrutura narrativa em abismo, em que diversas histórias se conectam.

As imagens (reais e fictícias) do funeral de Fellini, nos dias que se seguiram a 31 de outubro de 1993, ajudam a entender seu valor para a cultura italiana. Milhares de pessoas compareceram à cerimônia no Estúdio 5, na Cinecittà, onde Fellini dirigiu a maioria dos seus filmes e fez da fábula um espelho onírico e tragicômico da realidade.


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