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Crítica drama

Ninguém é só herói ou só canalha sob olhar do diretor

CÁSSIO STARLING CARLOS DO CRÍTICO DA FOLHA

Quem não se satisfez com "Os Inquilinos", em que o estilo inflamado de Sergio Bianchi parecia quase ameno, pode voltar a se contentar com "Jogo das Decapitações".

No lugar da violência disseminada, porém menos implícita, do longa anterior, Bianchi remexe, sem luvas, nas feridas do passado recente e nas agruras de um presente corrompido.

Seu guia é Leandro, estudante que pesquisa articulações de pequenos grupos que tentaram combater o regime militar e foram dizimados com torturas e desaparecimentos.

Na contramão de filmes recentes, que alçaram os protagonistas daquele combate a mártires, "Jogo das Decapitações" coloca a crítica na boca de jovens que os mais velhos chamam de "alienados" e "reacionários".

Entre uma geração e outra, circula o fantasma de Jairo Mendes, um artista que combateu o regime com a anarquia da fantasia.

Ele serve de figura tutelar a Leandro, que perambula no presente sem conseguir fazer escolhas, enquanto episódios de alucinação levam-no (e ao espectador) a reconhecer na violência um fundamento social de qualquer época.

Bianchi opta pelo olhar nuançado, em que ninguém é só herói ou só canalha. No lugar do retrato na parede ou do monumento de bronze, o filme projeta personagens demasiado humanos e devolve suas contradições à história.

A vantagem de inverter a todo momento o ponto de vista e inviabilizar a adesão do espectador a um discurso bloqueia a possibilidade de apontar o outro (as elites, os exploradores, os pobres, drogados e malvados) como culpado.

Isso garante a Bianchi uma posição favorável como cineasta cuja obra não se amaina à medida que o tempo passa. Como seus filmes são demonstrações dos furos arcaicos em nossa modernidade proclamada, vê-los é como abrir o vidro e encarar o terror.


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