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Ao tentar agradar festivais, 'Ilo Ilo' perde força dramática

SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ilo Ilo" é o longa de estreia do jovem diretor Anthony Chen, 29. O filme lhe valeu o Caméra d'Or no último Festival de Cannes. Mas premiações, como já disse, pouco

valem para se atestar a qualidade de uma obra, e por isso é necessário afirmar que "Ilo Ilo", a despeito de certa força dramática que vem dos atores, é irritantemente calculado para ser aceito em festivais internacionais.

Trata-se de um melodrama sobre a relação afetuosa entre uma empregada doméstica e um menino rebelde. Grávida novamente, a patroa fica enciumada porque seu filho parece mais próximo da empregada, algo que fica evidente na cena em que a empregada é chamada à escola, como se fosse a verdadeira mãe, para falar com o diretor.

Há uma série de comentários sociais interessantes: a empregada reza à mesa e é hostilizada pela patroa; o patrão se desculpa com a empregada por ela não ter sido aceita na mesa de convidados em uma festa, e é repreendido pela esposa; o momento dramático em que o pai diz envergonhadamente o quanto perdeu de dinheiro; uma tocante cena de demissão.

Há ainda uma tentativa de metaforizar a letargia da população, na cena em que o pai vê pela TV uma reportagem que mostra as dificuldades que os pintinhos têm de sair de seus ovos, clara alusão à situação em que ele se encontra diante da crise.

Pena que predomine o cálculo. Um exemplo é o uso constante da câmera na mão, balançando como num barco à deriva. Uma câmera que responde mais às necessidades do fluxo de ação (e principalmente da moda atual) do que a uma ideia de testemunha ideal que norteia o cinema desde Lumière.

Tal opção enfraquece o potencial melodramático do filme, jogando-o para o lado do diagnóstico social (o enredo é ambientado em 1997, durante a crise asiática) e da convivência em tempos difíceis.

Por isso os bons momentos (o caso da bituca de cigarro, o banho afetuoso que a

empregada dá no menino, algumas cenas no final) ficam soterrados pela formatação festivaleira que faz com que o filme seja destinado ao

gosto médio predominante.


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