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LEWIS ALLAN REED
1942 - 2013

Hora do culto

Lou Reed, primeiro e único grande transgressor do rock, não deixa substitutos e deve ser venerado em material póstumo e reedições

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Na ânsia do mercado pop para substituir ídolos, até mesmo antes que estes se retirem de cena, muito já foi falado sobre "os novos Beatles", "o novo Dylan", "a nova Amy" e tantos outros. Mas ninguém até hoje se arriscou a rotular alguém que possa ser um "novo Lou Reed".

Simplesmente porque não é fácil achar nomes comparáveis ao cantor americano morto no fim de semana. Aos 71 anos, nem o próprio Reed conseguia nos últimos tempos chegar perto do transgressor das décadas de 1960 e 1970.

O culto a esse Lou Reed radical só tende a aumentar com sua morte. Há produtos recentes no mercado para alimentar antigos e novos fãs.

Como ele sempre gravava rascunhos musicais para retomá-los depois, uma leva de gravações póstumas deve aparecer, talvez com material suficiente para rivalizar com o baú de Jimi Hendrix.

Substituir Reed no cenário do rock beira o impossível porque alguém pode até tentar reproduzir sons e temas recorrentes, mas ele, mais do que qualquer outro artista, teve sua vida e suas atitudes entrelaçadas com sua música.

Os malucos surgidos no rock, do tipo Marylin Manson, são e serão sempre postos em dúvida: verdadeiros ou falsos em suas viagens ao fundo do poço?

No caso de Reed, os excessos estão vívidos nos relatos de amigos e biógrafos. Sua vida era mesmo barra-pesada.

DISCÍPULOS ESTRANHOS

Se enxergar algum substituto no cenário atual é difícil, o próprio cantor não ajudou muito. Há dois anos, indagado na TV inglesa sobre quem ele via como seus sucessores, ele surpreendeu com dois discípulos inesperados.

"Existe alguma coisa que se conecta ao meu trabalho em Antony and the Johnsons e Joan as Policewoman", foi a resposta dele, se referindo a artistas que abriram shows de suas turnês mais recentes.

A banda Antony and the Johnsons tem pelo menos o apreço por letras melancólicas e a ambivalência sexual do vocalista Antony Hegarty, protegido de Reed desde seus primeiros show em clubes de Nova York.

Mas, quanto à cantora indie Joan Wasser, 43, ganha um prêmio quem encontrar algum paralelo consistente entre o trabalho dela e o cancioneiro de Reed.

Reconhecer novos talentos e dar uma força, chamando para ser banda de abertura de seus shows, foi algo que Reed fez em toda a carreira. E, como ele nunca deixou de surpreender, descobriu nomes inusitados.

No início dos anos 1970, levou para shows em Nova York uma banda inglesa da qual os americanos ainda não tinham ouvido falar: Genesis. Assim, alguns felizardos puderam então ver na mesma noite e no mesmo palco um Lou Reed no auge da criatividade e um Peter Gabriel jovem e enlouquecido.

Em 1974, durante uma curta turnê australiana, Reed cedeu a abertura de oito noites a um grupo que chamou de "louco e arrebatador". Era o AC/DC do então adolescente Angus Young.

Se mesmo Reed, com esse olhar afiado para detectar novos talentos, não conseguiu eleger um seguidor de seu universo urbano barra-pesada, é bom o mercado nem tentar.

Que venha um baú de gravações inacabadas. Pelo mesmo, é coisa do primeiro e único Lou Reed.


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