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Centenário de Camus tem festejo discreto

Comemorações se concentraram em 2010, quando se completaram 50 anos da morte do Nobel franco-argelino

Único lançamento relacionado à data no Brasil é uma reedição de 'O Estrangeiro', clássico de 1942

DO COLUNISTA DA FOLHA

O centenário de Albert Camus (1913-1960), no dia 7 de novembro, foi comemorado de modo discreto, com poucos lançamentos. Em parte, porque a celebração do escritor franco-argelino, vencedor do Nobel de Literatura em 1957, foi antecipada nos 50 anos de sua morte, em 2010, com uma enxurrada de livros.

A começar pelo fundamental "Dictionnaire Albert Camus", de Jeanyves Guérin, e pela fotobiografia "Albert Camus "" Solitaire et Solidaire", de Catherine Camus, sua filha. Dessa obra deriva, agora, "Le Monde en Partage" (O mundo compartilhado, ed. Gallimard), em que ela reúne fotografias e manuscritos centrados em suas viagens.

Já "O Estrangeiro" acaba de ganhar, pela Gallimard, edição acompanhada de livreto que reconstitui a correspondência entre seu editor e intelectuais como André Malraux e Jean Paulhan, assombrados com o romance que o projetaria na cena literária, em 1942.

Aliás, a Record programa para esta semana uma edição comemorativa de "O Estrangeiro" no Brasil. É o único lançamento no Brasil relacionado à data comemorativa.

Mas há outro motivo para a timidez das celebrações. Após sua morte, Camus foi duplamente demonizado. Por causa da polêmica que selou sua ruptura com Sartre, em 1952, após a publicação de "O Homem Revoltado" (libelo contra a justificação do terror revolucionário). E pela posição hesitante na guerra de independência de sua Argélia natal: filho de franceses pobres, Camus não se via como colonizador e desejava a convivência pacífica entre árabes e europeus.

Nos anos 1990, a publicação de "O Primeiro Homem", inacabado romance autobiográfico, foi pretexto para a reabilitação de Camus --não mais visto como o libertário que era, mas como social-democrata e apóstolo da moderação. O ápice foi a proposta (fracassada) de Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, de transferir suas cinzas para o Panthéon, em Paris.

CANONIZAÇÃO

A voz mais potente a se elevar contra a condenação da esquerda e a canonização da direita foi a do filósofo Michel Onfray, que no recente "L'Ordre Libertaire" (A Ordem Libertária, ed. Flammarion) mergulha nas fontes anarquistas do pensamento de Albert Camus.

E na Argélia, que durante muito tempo ignorou o "filho ingrato", cuja ficção manteve os árabes num mudo anonimato, se esboça visão mais complexa de seus dilemas éticos.

Se "Le Dernier Été d'un Jeune Homme" (O Último Verão de um Jovem, ed. Flammarion), de Salim Bachi, é uma biografia romanceada, dois livros retomam ficcionalmente o protagonista de "O Estrangeiro".

Em "Aujourd'hui, Meursault Est Mort" (Hoje, Meursault Morreu, e-book), de Salah Guemriche, e "Meursault, Contre-enquête" (Meursault, Contra-investigação, ed. Barzakh) de Kamel Daoud, cruzam realidade e ficção, confrontando Camus com árabes como o que Meursault (protagonista de "O Estrangeiro") assassinou "por causa do sol".

O recurso irônico faz jus a um escritor cuja percepção do absurdo acolheu a gratuidade (e a culpa) dos gestos radicais e que, contrário a prescrições ideológicas, expressou a recusa de fazer da história uma finalidade em si mesma.

Como escreveu Camus em "O Homem Revoltado", "o homem não é totalmente culpado, não foi ele que começou a história; nem inocente, já que a continua".


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