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Crítica - Música erudita
Violonista David Russell vai do barroco ao celta em SP
SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHAO recital do violonista escocês David Russell anteontem no Cultura Artística Itaim, em São Paulo, já faz parte da história de vida de uma jovem geração de violonistas que só o conhecia por vídeos e gravações.
Radicado na Espanha, Russell firmou-se a partir dos anos 1990 --ao lado de Manuel Barrueco e do Duo Assad-- como destaque da geração que surgiu após Andrés Segovia (1893-1987), Julian Bream e John Williams.
Ele havia tocado em São Paulo apenas uma vez, em novembro de 1998: muito pouco para uma cidade que tem revelado, ao longo das últimas décadas, uma quantidade representativa de violonistas com projeção internacional.
Aos 60 anos, sua técnica continua imaculada: som doce e encorpado, que se projeta fácil, e controle dinâmico excepcional; as notas ligam-se magicamente e o timbre não se altera diante de mudanças de velocidade e textura.
O programa foi parecido com o de 1998: abriu com a "Rossiniana nº 3" de Mauro Giuliani (1781-1829), fechou com os seus arranjos de música celta, e teve um "tremolo" de Barrios como bis.
No meio, música barroca de Scarlatti (1685-1757) e Couperin (1668-1733) --oportunidade para as ornamentações rápidas em duas cordas, uma de suas especialidades-- e "Sandy's Portrait", composição em três movimentos do paulista Sérgio Assad.
Do ponto de vista estilístico, a personalidade de Russell parece combinar mais com a austeridade da música barroca do que com o bom humor exigido pelo "medley" de árias clássicas de Giuliani.
E Sérgio Assad deveria ser levado mais a sério como compositor pela academia: sua nova obra é enxuta e madura, mostra grande domínio artesanal. Ele aprofunda a contribuição de Radamés Gnattali (1906-1988) para a música brasileira.