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Biografias

Mário de Andrade era 'pansexual', diz biógrafo

Suposta homossexualidade do autor é um obstáculo ao livro, para especialistas

Curadora de acervo do modernista rejeita essa versão para explicar resistência de herdeiro: 'A família não é burra'

DO EDITOR-ADJUNTO DA "ILUSTRADA"

Pesquisadores do país comentam há anos que a suposta homossexualidade de Mário de Andrade seria o motivo de não existir biografia do escritor --herdeiros não gostariam de abordar o tema.

A tese voltou a ser levantada durante o festival de biografias realizado na semana passada em Fortaleza por autores como Humberto Werneck e Lira Neto.

"Eu sempre quis fazer um livro sobre Mário de Andrade, acho que ele é a figura mais importante da cultura brasileira no século 20. Não se pode fazer isso porque ele era veado e porque a memória dele, o acervo, tem proprietários", disse Werneck durante um debate.

O jornalista Jason Tercio diz que tratará do assunto em sua biografia, mas sem ênfase. "Apesar de alguns teóricos, como João Luiz Lafetá, terem visto reflexos de homossexualismo em textos do Mário, esse aspecto da vida dele é o menos importante."

"Minha conclusão até agora é que ele era pansexual. Aliás, uma vez ele disse ao Rosário Fusco que seria capaz de ter relação sexual com uma árvore", relata Tercio.

A suposta homossexualidade do autor de "Pauliceia Desvairada" é apontada como gota d'água no rompimento dele com outro modernista, Oswald de Andrade.

Tercio lembra que Oswald escreveu que Mário de Andrade era "o nosso Miss São Paulo traduzido em masculino".

Werneck, citando o historiador modernista Mário da Silva Brito, lembrou que Oswald se referiu em texto a Mário como "boneca de piche".

Professora titular do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP e curadora do Arquivo Mário de Andrade, Telê Ancona Lopez refuta a tese de que a sexualidade é o motivo de a família resistir a biografias. "É absurdo. A família do Mário não é burra. Isso é preconceito de quem pergunta."

SETE ANOS

Apontada à boca miúda por pesquisadores como uma guardiã rígida do acervo de Mário de Andrade no IEB, Lopez disse que a biografia dele "está disseminada por aí", em artigos e salas de aula.

Mas ela declarou não se opor à biografia de Tercio. "Eu o conheço. Acredito que venha a ser um bom trabalho, porque ele é um biógrafo conceituado."

Assim como outros biógrafos brasileiros, Tércio aguarda o desfecho do impasse sobre as biografias não autorizadas para definir como fará com a sua obra sobre Mário.

Ações no Supremo Tribunal Federal e no Congresso tentam alterar artigos do Código Civil que permitem o veto a biografias não autorizadas.

Tercio mergulhou há sete anos na pesquisa sobre o modernista e começou a escrever o livro há três anos. Planeja concluir o trabalho no primeiro semestre de 2014.

Autor de uma biografia do jornalista Carlinhos de Oliveira ("Órfão da Tempestade") e de livros sobre o deputado Rubens Paiva, Tercio diz ter já ter sondado editoras, mas aposta que qualquer negociação só seguirá após a resolução do imbróglio jurídico.

O biógrafo procurou os herdeiros de Mário e expôs a importância de uma biografia. "As cartas têm informações biográficas, mas passageiras e incompletas" e, "mesmo se já houvesse uma biografia, poderia haver outras, pela grandeza de sua vida e obra". Não convenceu.

"A posição é a mais absurda entre todas as de herdeiros, não teria amparo legal, mesmo no Código Civil atual", diz Tercio, que já tem plano B caso surja impedimento jurídico.

"Publico o livro em outro país e apresento denúncia em órgãos internacionais, como o PEN International e Index on Censorship", diz, aludindo à associação de escritores e a ONG que denuncia violações da liberdade de expressão pelo mundo.


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