Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Drama

'Jovem e Bela' retrata jogo de sedução perverso e ingênuo

Diretor François Ozon filma sexo com ausência intencional de profundidade

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Juventude e beleza formam um par tão indissociável para a maioria que indagar seus mistérios pode parecer anomalia (ou necessidade de gente velha e feia). Sem recusar encantos, o diretor François Ozon espia pelo buraco da fechadura para apreciar o que a perfeição mostra e esconde.

"Jovem e Bela" mostra a transformação de Isabelle, uma garota de 17 anos, ao longo de quatro estações.

No verão, ela transa na praia pela primeira vez com um garoto alemão, mas a experiência parece banal e pouco prazerosa. Nos meses seguintes, a vemos em encontros com homens mais velhos, com quem se prostitui sem nenhum motivo aparente, financeiro ou outro.

Desde a primeira imagem, o filme assume ser um jogo de sedução. No formato de binóculo, espiamos uma garota de topless na praia. Quando se revela o dono do olhar, descobrimos ter caído numa armadilha em que se combinam ingenuidade e perversão.

Como no formidável "Dentro da Casa", longa anterior de Ozon, o personagem adolescente conduz a trama como um reflexo dessa idade, em que corpo, sexualidade e identidade encontram-se no ponto máximo das ambiguidades.

Não se trata, porém, de mais uma "Bela da Tarde", nem de outra "Dama do Lotação", filmes em que o impulso da entrega a estranhos simbolizava a contraposição ao machismo ou a vontade de transgredir a visão conservadora dos papéis femininos.

Sem se perder em justificativas psicológicas ou sociológicas, Ozon filma as experiências de Isabelle como algo virtual, sem envolvimento.

O perfil sem rosto na internet, as roupas que a fazem parecer adulta e a atitude profissional com clientes são como um paralelo que ela incorpora, mas do qual se desfaz ao chegar em casa e tomar banho.

Essa desconexão torna-se ainda mais evidente com a opacidade que a modelo Marine Vacth empresta ao personagem, uma não atuação que reforça a opção do filme em não dar respostas.

Nessa ausência intencional de profundidade, Ozon contempla a adolescência sem julgar nem tentar explicar. Na cena final, porém, a aparição de Charlotte Rampling impõe ao espectador o sentimento que, finda a juventude, a beleza guarda seu absoluto mistério.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página