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A saga dos Lacerda

Neto do político e jornalista Carlos Lacerda refaz trajetória da família em romance

RAQUEL COZER COLUNISTA DA FOLHA

Entre as poucas lembranças que o escritor Rodrigo Lacerda, 44, guarda do avô, o jornalista e político Carlos Lacerda (1914-1977), está a de seu enterro, no cemitério de São João Batista, no Rio.

Aos oito anos, sem nunca ter visto o avô em atividade, Rodrigo espantou-se com o tumulto de lacerdistas na cerimônia fúnebre. Não fazia ideia das paixões causadas por Carlos, que teve direitos políticos cassados pela ditadura antes de o neto nascer.

A imagem ficou num canto da memória do autor até 2010, quando, convidado pela "Ilustríssima", na Folha, a descrever o momento, criou o conto "Política", narrado pelo defunto, à moda "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.

O texto gerou um convite da Companhia das Letras para o escritor fazer um retrato biográfico do avô, figura inflamada que, dos anos 1930 aos 1960, rompeu com esquerda e direita, passando de comunista a anticomunista e de articulador do golpe de 64 a um de seus grandes críticos.

"A República das Abelhas" chega agora às livrarias, no ano que antecede o centenário de Carlos Lacerda. O título se refere a um "frenesi em volta da colmeia", metáfora sobre os vários grupos políticos de olho no poder na primeira metade do século 20.

Em 520 páginas, Carlos Lacerda relembra o avô, o juiz Sebastião; o pai, o deputado federal Maurício; os tios, Paulo e Fernando, comunistas; e sua própria trajetória, na qual se destaca a oposição ferina a Getúlio Vargas (1882-1954).

HISTÓRIA SEM RIGOR

Rodrigo leu tudo sobre Carlos, incluindo a imensa biografia feita pelo americano John Watson Foster Dulles, cartas, discursos e sua produção literária --o político escreveu peças, contos e memórias; foi tradutor e editor.

Por "falta de opção melhor", chama o resultado de romance histórico. "Tem biografia e é romance, mas não só; é história, mas sem rigor."

O livro é narrado em primeira pessoa. "O distanciamento de um historiador era impossível, já que sou neto. Tentei tirar partido disso", diz Rodrigo, premiado por romances como "Outra Vida".

Essa opção o deixou livre para recorrer a uma visão parcial, impregnada pelas crenças do avô. Mas o olhar pós-morte traz um político mais comedido do que aquele que ficou famoso pela veemência. "É ele fora do jogo lembrando o campeonato", explica.

A reflexão ficcional póstuma permitiu ao autor incluir conclusões próprias, como a de que a ruptura do Partido Comunista do Brasil com Lacerda, em 1939, teve a ver com uma estratégia dos dirigentes para queimar seu tio Fernando, que media forças com Luís Carlos Prestes.

Leitores sentirão falta de duas passagens notórias da vida do político: sua atuação como governador da Guanabara (1960-1965) e sua ligação com o golpe de 64. Há um plano da editora de publicar um segundo livro. Rodrigo não se compromete.

"A essência da visão de meu avô se consolida até os anos 1950. Com isso, deixei de fora o melhor e o pior da vida política dele. Pode ser que continue, mas, por ora, voltarei a outros trabalhos."


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