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Crítica documentário

'Morro dos Prazeres' é retrato de um desequilíbrio de forças

CÁSSIO STARLING CARLOS DO CRÍTICO DA FOLHA

Uma teia de pedaços de madeira sugere uma mistura de inacabamento ou de ruína. Em seguida, um muro incompleto confunde-se com um lugar após um bombardeio. Por trás deles, a figura fugidia de uma criança parece se esconder.

Esse conjunto de imagens na abertura de "Morro dos Prazeres" dá a ver a combinação instável de projeto e demolição registrado pela documentarista Maria Augusta Ramos ao enfocar o cotidiano de uma comunidade carioca um ano após a ocupação do lugar por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

No prólogo, que se parece como ficção, veem-se crianças brincando de polícia e bandido com armas de madeira e papel. A forma fingida e lúdica, porém, não esconde a violência explícita em falas como "Policial safado! Cadê minha maconha? Vou enfiar uma bala dentro da tua cabeça pra tu parar com isso".

Essa tensão prolonga-se nas cenas seguintes, que captam um policial em atendimento às queixas de cidadãos, dando orientações a uma patrulha. A rotina deixa transparecer as dificuldades para ultrapassar barreiras, para derrubar a oposição entre lei e bandidagem, no meio da qual vive a "população de bem", como define o policial.

Como nos excepcionais "Justiça" (2004) e "Juízo" (2007), documentários em que captou com precisão o abismo social onipresente sob a abstração da lei, Ramos vai a campo sem tese pronta e despojada daquele olhar jornalístico que sobe o morro só para mostrar sangue.

Sua abordagem nunca se confunde com denúncia simplificadora da violência de um lado ou de outro. Também toma cuidado para não cair no contrário, na projeção de uma visão idílica da vida no morro.

Para o espectador que se satisfaz com os julgamentos imediatos do Datena e companhia, "Morro dos Prazeres" pode parecer impreciso, uma abordagem indecisa por evitar aderir a um ponto de vista exclusivo ou excludente.

A aproximação de Ramos, no entanto, mais que cautelosa, respeita a situação, um desequilíbrio de forças em que nada se reduz a bem ou mal, a inocentes e culpados.

Ela tem a ver, em suma, com a complexidade à qual costumamos chamar de realidade.

MORRO DOS PRAZERES
DIREÇÃO Maria Augusta Ramos
PRODUÇÃO Brasil, 2013
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Augusta 4 e Frei Caneca 6
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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