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Crítica romance

Neuman arrisca e consegue intercalar vozes sem vacilar

JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA

Em "Falar Sozinhos", Andrés Neuman explora o terreno das lembranças familiares e o fato de que são feitas mais de silêncios do que de diálogos. Mais de lacunas do que de certezas, como também ocorre no campo da literatura.

Mario, o pai, está doente. Como se encontra nas últimas, decide fazer uma derradeira entrega de caminhão ao lado de Lito, seu filho de dez anos, criando a lembrança de uma viagem. Enquanto isso, Elena, a mãe, fica em casa às voltas consigo mesma, sozinha e afastada das responsabilidades de esposa de um moribundo.

A forma adotada é arriscada, intercalando vozes em primeira pessoa. Neuman poderia vacilar, não atribuindo verossimilhança aos registros íntimos para convencer o leitor de que ali pensam uma criança, uma mulher e um homem. Equilibrando-se nesse arame farpado, não vacila.

Mario oculta a doença do filho. Implantar a memória de si na mente de Lito passa a ser a questão. Elena, por sua vez, depara-se com o próprio corpo, antes entregue à rotina do casamento. Assim, redescobre-o através do sexo perverso com um amante insuspeitado. Também retorna ao projeto relegado de escrever, reunindo passagens de outros autores que exploraram a relação da literatura com a doença.

Entre as lacunas desses pensamentos, gira a roda familiar. O não dito assume proporções terríveis, ainda mais se comparado à torpeza daquilo que é dito sob convenções que nada revelam, a não ser a morte dos sentimentos. É então que o luto adquire seu caráter de fabulação que busca dar sentido à vida, essa coisa sem sentido algum.

FALAR SOZINHOS
AUTOR Andrés Neuman
TRADUÇÃO Maria Alzira Brum Lemos
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 34,90 (168 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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