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As figuras superrealistas de Ron Mueck são vistas pela 1ª vez na América Latina; hoje em Buenos Aires, suas esculturas impactantes serão exibidas no Rio em março

LÍGIA MESQUITA DE BUENOS AIRES

O casal adolescente está em pé, lado a lado. Ela tem o ombro direito encostado no peito dele e o braço esquerdo estendido ao lado da coxa.

A mão direita do garoto está dentro do bolso de sua bermuda. Os rostos estão quase colados. Por trás, vê-se a mão esquerda dele segurando o punho direito da namorada.

"É tão incrível. São tão reais que parecem estar respirando", diz, em documentário da Fundação Cartier, o diretor americano David Lynch ao ver "Jovem Casal", uma das três peças que Ron Mueck, 55, criou para sua exposição que ficou em cartaz de abril a outubro em Paris.

Lynch foi um dos mais de 300 mil visitantes da mostra do artista australiano, famoso por suas esculturas hiper-realistas de proporções ora gigantescas, ora pequenas. O cineasta gostou tanto do que viu que gravou depoimentos para o museu.

Desde o dia 17, o trabalho de Mueck pode ser visto pela primeira vez na América Latina. As nove esculturas da retrospectiva são exibidas na Fundação Proa, em Buenos Aires. Em março, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio abrigará as obras.

Na primeira semana, 15 mil pessoas viram a mostra, enfrentando filas de 50 minutos. A atração principal é "Casal sob um Guarda-Sol", uma escultura gigantesca representando um par de idosos.

O homem, sem camisa e de bermuda, repousa a cabeça nas pernas da mulher, sentada, de maiô azul.

A precisão de detalhes impressiona: pele enrugada, veias saltadas, verruga e até um joanete no pé.

"As obras dele têm uma relação direta com o cotidiano, por isso fazem tanto sucesso. Tudo é reconhecível", diz à Folha Adriana Rosenberg, presidente da Proa.

SILÊNCIO

Filho de alemães, Mueck iniciou carreira num programa de TV na Austrália, criando, operando e dando voz a marionetes, de 1979 a 1984.

Passou a criar esculturas hiperrealistas em Londres. O reconhecimento veio em mostra coletiva de 1997, com "Dead Dad", em que representava o próprio pai morto.

A italiana Grazia Quaroni, que assina a curadoria com Hervé Chandès, diz que não se pode rotular Mueck. "É tão clássico quanto contemporâneo. Melhor que classificá-lo é desfrutar de sua obra."

A terceira peça criada por Mueck para a mostra é "Mulher com Compras", em escala pequena. Nela, uma mulher carrega uma sacola em cada mão e leva, preso ao seu corpo, um bebê com apenas a cabeça para fora do casaco abotoado.

A visita se encerra com o documentário "Still Life" (natureza morta), que mostra Mueck confeccionando suas três últimas obras.

Por 50 minutos, o público vê o artista em seu ateliê de Londres, criando moldes e cuidando minuciosamente de cada detalhe das peças -- feitas de fibra de vidro e silicone, entre outros materiais, a partir de moldes de argila.

Assim como as esculturas, o filme propõe uma reflexão do que está sendo exibido: Mueck não conversa, não diz como é seu processo criativo nem revela influências. Não gosta de dar entrevistas. Trabalha em silêncio.


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