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Lançamento analisa roubo da 'Mona Lisa'

Livro 'Os Crimes de Paris' narra bastidores do caso de 1911 e constrói painel cultural da cidade luz na 'belle époque'

Ladrão era funcionário do Louvre que fugiu para a Itália; entre os suspeitos estavam Picasso e Apollinaire

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Inimaginável, inexplicável, incrível e assombroso. Essas palavras estampavam as manchetes dos principais jornais franceses, noticiando o rapto de uma moça que abalou a Paris da "belle époque".

Não era uma moça qualquer. Na manhã de 21 de agosto de 1911, a "Mona Lisa", de Leonardo Da Vinci, foi surrupiada de seu lugar de destaque no Louvre. Levada não se sabia como nem para onde, ela só reapareceu anos depois, em novembro de 1913, com a confissão do ladrão.

Um dos maiores crimes na história da arte, o roubo da obra-prima renascentista serve como espinha dorsal de "Os Crimes de Paris", livro dos norte-americanos Dorothy e Thomas Hoobler que sai agora pelo Três Estrelas, o selo editorial do Grupo Folha.

Enquanto destrincha cada episódio do roubo --e não foram poucos--, o casal de autores também constrói um vertiginoso painel da cena cultural parisiense na virada para o século 20 e detalha avanços nos estudos criminológicos, que então floresciam.

Foi nessa época que Alphonse Bertillon criou seu método antropométrico, que consistia em medir distâncias no rosto dos suspeitos, como entre os olhos ou do nariz à boca, e comparar com fichas arquivadas pela polícia.

Também já era possível distinguir entre manchas de sangue humano e de animais, além de analisar impressões digitais com alguma precisão.

"Usamos o roubo da Mona Lisa' como fio condutor, além de mostrar como a ficção da época se apropriava dos casos de polícia", diz Dorothy Hoobler. "Mas também tentamos capturar o sabor da Paris da belle époque', com os pintores e poetas revolucionários que viviam por lá."

Dois desses revolucionários mais ilustres, aliás, acabaram arrolados como suspeitos do roubo do quadro. O poeta Guillaume Apollinaire chegou a ser detido para interrogações, e Pablo Picasso, que admitiu comprar artefatos roubados do Louvre para estudar em seu ateliê, também ficou na mira da polícia.

Jornais, que se aproveitavam do caso para explodir em vendas nas bancas, também lançavam uma série de teorias mirabolantes, acusando até o governo alemão de ter levado a peça. O episódio, narrado com alarde, gerou um caos nas fronteiras, com trens e bagagens vistoriadas.

Mesmo assim, não evitaram que o real ladrão fugisse do país com a tela. Vincenzo Peruggia, um italiano que trabalhava no Louvre, passara a noite escondido num quartinho do museu. Na manhã seguinte, saiu com a tela enrolada debaixo do uniforme.

Peruggia, dizem, tentou vender a tela em Londres, sem sucesso. Depois, fugiu para Florença e só foi pego ao oferecer a "Mona Lisa" para um marchand dali, dizendo que devolver um Da Vinci à Itália era um ato patriótico.

"Até hoje parece uma desculpa esfarrapada", diz Thomas Hoobler. "Mas ele acabou nem sendo preso e abriu uma loja de tintas em Paris."

OS CRIMES DE PARIS
AUTORES Dorothy Hoobler, Thomas Hoobler
TRADUÇÃO Maria José Silveira
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 55 (464 págs.)


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