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Dança contemporânea busca seu lado pop

Em 'Dente de Leite', coreógrafo carioca afirma enfrentar desafio de ser entendido por qualquer tipo de público

Espetáculo criado por Alex Neoral trata dos diversos usos da boca; estreia em São Paulo é nesta quinta-feira

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

O coreógrafo carioca Alex Neoral, 34, gosta de ser pop, algo que, segundo ele, não tem caracterizado a produção contemporânea de dança.

"Muitos coreógrafos ficam no seu mundo, não se preocupam se o público vai entender ou não o que está vendo", afirma Neoral.

Em sua última criação, "Dente de Leite", que estreia em São Paulo na próxima quinta, ele diz que enfrenta o desafio de se fazer entender por qualquer tipo de público, não só pelo povo da dança.

"Se o espectador fala gostei, mas não entendi', faltou algo importante. Não quero dar tudo mastigado, mas também não quero fazer uma arte seletiva, exclusiva para alguns grupos", afirma Neoral.

No espetáculo, ele aborda os diversos usos da boca, do mamar ao beijar, do comer ao falar. O cenário é uma estrutura côncava onde os bailarinos entram e saem, "como tudo que entra e sai de nossas bocas", diz o criador.

GRANDE PÚBLICO

No ano passado, a Focus, companhia criada e dirigida por Neoral, conseguiu atrair o grande público com um trabalho inspirado nas músicas de Roberto Carlos: "As Canções que Você Dançou para Mim" teve quase uma centena de apresentações, número difícil de ser atingido por companhias nacionais.

Já para a nova coreografia, "Dente de Leite", a coisa é mais complicada. "É muito mais conceitual. Até a trilha sonora é mais abstrata, não é uma música fácil para todo mundo", diz Neoral.

Ele se preocupa em não afugentar o já restrito público de dança contemporânea.

"As pessoas podem assistir a filmes que não gostam, mas continuam indo ao cinema. No caso da dança, se não são da área e assistem a um espetáculo que não entendem nem gostam, não voltam para ver outros", afirma.

Para atrair e manter a atenção do espectador, Neoral usa sua experiência de coreografar grandes produções --incluindo desfiles de Carnaval.

Em 2014, ele faz a coreografia da comissão de frente da Unidos de Vila Isabel, campeã carioca deste ano.

"É muito bacana trabalhar com escola de samba. Você aprende a criar seguindo regras muito específicas, não pode estourar o tempo."

A noção de tempo é algo que, além de contar pontos no Sambódromo, pode evitar a fuga do público de dança contemporânea, segundo ele.

O limite de tolerância das pessoas para cenas longas sempre está em seu horizonte. "A lentidão pode ser insuportável, no mau sentido. Claro que pode ser usada a favor de uma ideia, mas nesse caso tem que ser muito bem planejada. Uma cena que é só arrastada é boa para quem?", questiona.

MUSICAIS

Outra vertente pop do trabalho de Neoral é sua participação em grandes musicais, como "Rock in Rio - O Musical" e "Cazuza".

"São trabalhos grandes, que chegaram a muita gente. Eu gosto de namorar essa aproximação com o público."

A diferença de criar para sua própria companhia é ter controle total do projeto.

"Na Focus, sou a cabeça do projeto. No musical, sou só uma ponta, obedeço a direção. Gosto porque me obriga a dialogar, fazer acordos."

Ele também gosta especialmente de canções. Depois do sucesso do espetáculo com músicas de Roberto Carlos, prepara outra coreografia inspirada na MPB. Desta vez, o escolhido é Chico Buarque.

Ao contrário da trilha sonora mais experimental do atual "Dente de Leite", a ideia para o próximo trabalho segue a fórmula de atingir o público com o uso de um nome de grande popularidade da música brasileira.

Mas Neoral afirma que a escolha não tem a ver com o sucesso atingido pelo espetáculo anterior. "O Chico tem algo em suas músicas que me estimula, estou sendo honesto com minha inspiração artística. Não estou só preocupado com o público."

Para a próxima criação, o grupo terá, pela primeira vez, um patrocínio por três anos, da Petrobrás. Até então, eles tinham que ir atrás de verba para cada apresentação.

"É difícil porque aqui no Brasil, nunca sabemos quando vamos poder nos apresentar, somos convidados poucas semanas antes. É ótimo ser convidado, mas nem sempre você consegue se agendar. Todo mundo sofre com essa instabilidade."


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