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Crítica - Tragédia

Falta de padronização cênica prejudica 'Antígona' futurista

Versão da obra de Sófocles mistura teatro de sombras, bonecos e projeções

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

Atualização da tragédia de Sófocles, o espetáculo "Antígona 2084" desloca o drama social que contrapõe as pretensões rivais do Estado e da consciência individual para a época futura do título.

No clássico grego, Antígona, ávida por dar um enterro cerimonioso ao irmão Polinices, representa a lei divina, enquanto Creonte é o mandatário da Justiça dos homens.

Na adaptação escrita por José Rubens Siqueira, porém, esses antagonismos inerentes se enfraquecem diante de outras esferas narrativas.

O enredo é delineado de tal forma que a intransigência desses pontos de vista conflitantes não parece nada além de teimosia e retórica dos protagonistas, o que deixa as dimensões transcendentais do mito atenuadas ao extremo.

Apesar do futurismo, é do presente que vêm as referências dramáticas: fala-se sobre revoltas populares nas ruas e do abuso de poder na contenção desses atos. Um áudio com o povo gritando as palavras de ordem "sem violência" deixa mais explícito ainda o paralelo com as manifestações de junho deste ano.

Essa mescla de tempos prejudicou figurino (soldados futuristas contracenam com Hêmon de bermuda e sapatênis) e atores, já que o público não identifica dentro de qual código estão interpretando.

Lenita Ponce faz uma Antígona anarcopunk sem o carisma e a solenidade que o papel exige. Os três juízes atuam em sotaques discrepantes.

Affonso Lobo encarna um Creonte cibernético com muita fúria --e gestos hábeis na incorporação de tiques nervosos nas mãos e no rosto--, mas pouco comedimento, deixando o personagem desengonçado em certas cenas.

O cruzamento de linguagens, por outro lado, favorece a proposta de dar novos significados à tragédia sofocliana. O diretor João Grembecki emprega um arsenal de recursos técnicos.

Com manipulação de bonecos, mostra a luta entre Etéocles e Polinices. Teatro de sombras e gravações de voz assumem a função do coro. Projeções de vídeo exibem o povo reivindicando e imagens de tortura. Há potencial na peça, mas faltou um azeite para dar liga ao conjunto.


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