Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Ópera

Voz quente de soprano domina 'La Bohème'

A grega Alexia Voulgaridou é maior atração em montagem de Puccini, apresentada até 29/12 no Theatro Municipal

JOHN NESCHLING BUSCOU EXTRAIR SUTILEZAS DA ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL, UM ORGANISMO QUE AINDA CARECE DE MALEABILIDADE E EQUILÍBRIO SONORO ENTRE OS NAIPES

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

É no terceiro ato da ópera "La Bohème" que o conflito se explicita: não há infidelidade entre o jovem poeta Rodolfo e a florista Mimì; o vértice superior do triângulo amoroso é ocupado pela morte, força inexorável que acabará puxando para si a menina.

Nem o amor sincero pode vencer essa força, por isso os apaixonados Rodolfo e Mimì estão separados, enquanto que o casal formado pelo pintor Marcello e a provocante Musetta acaba unido nas idas e vindas de um relacionamento instável.

É nesse ponto, igualmente, que Puccini (1858-1924) mostra o quão longe pode ir a habilidade de juntar música e teatro. Sua técnica é a de um sinfonista: utiliza uma quantidade pequena de materiais, os quais varia e desenvolve sem prejuízo da narrativa.

A orquestra parece ter autonomia sobre os cantores, que, ao invés de serem acompanhados, se somam a ela nos momentos de alta emotividade.

Na estreia da montagem que fica em cartaz até dia 29 no Theatro Municipal de São Paulo, John Neschling buscou extrair sutilezas da Orquestra Sinfônica Municipal, um organismo que ainda carece de maleabilidade e equilíbrio sonoro (volume e timbre) entre os naipes.

Assinando direção cênica, cenografia e desenho de luz, Arnaud Bernard aperta a ação no centro do palco nos atos que abrem e fecham o espetáculo, como se a opressão da pobreza impedisse os atores de ocupar o espaço que --vazio--_ se oferece.

Os companheiros de Rodolfo foram bem interpretados por Simone Piazzola (o pintor Marcello), Mattia Olivieri (o músico Schaunard) e Felipe Bou (o filósofo Colline, especial em sua cômica ária do quarto ato, "Vecchia zimarra, senti").

O tenor paraense Atalla Ayan tem muita facilidade no registro mais agudo da voz e um belo timbre escuro nos graves. Foi um Rodolfo muito seguro, a exemplo de Mihaela Marcu, a Musetta.

Ver e ouvir ao vivo a soprano grega Alexia Voulgaridou (no papel de Mimì) foi o maior privilégio da noite de terça-feira: voz quente nos graves, homogeneidade e matizes em todos os registros e uma potência que encheu o teatro de emoção e beleza.

Alexia dota Mimì de uma fatia fixa de poesia e sedução, que tempera a fragilidade da dor e da morte. Tomara possamos vê-la mais vezes.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página