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Crítica terror
'Somos o que Somos' investe em paisagens e ameaças naturais
Refeita pelo americano Jim Mickle, a trama do mexicano Jorge Michel grau perde o essencial para se tornar apenas um exercício climático
De todos os gêneros que retornam ao cinema americano depois de revigorados pelas mãos de diretores de outros países, o terror é o que tem tido destino mais funesto.
Depois de arrepiantes filmes de horror japoneses, coreanos e suecos se transformarem em pouco mais do que nada ao serem refeitos com mais dinheiro e menos ideias, o mexicano "Somos o que Somos" ganha o mesmo fim.
No original de 2010, escrito e dirigido por Jorge Michel Grau, a situação material em que vivia a família era parte determinante de uma tragédia de sustos. O horror manifestava os efeitos de uma crise social, as más condições de vida na periferia de uma metrópole caótica.
Refeita por Jim Mickle, a trama perde o essencial para se tornar apenas um exercício climático. A transposição da história, dos subúrbios mexicanos para uma região rural dos Estados Unidos, adota o fundamentalismo religioso como tema central.
Ali, após a morte da mulher, Frank Parker mantém aferroados os três filhos a comportamentos fechados a contatos sociais e exige que todos cumpram um jejum rigoroso. As adolescentes Rose e Iris temem o poder paterno e cumprem o que lhes parece ser um destino. O irmão, Rory, vagueia na fantasia.
Em seguida, uma série de "flashbacks" mostra uma família tendo de enfrentar os rigores da sobrevivência num tempo e espaço rudes, com a fome e as ameaças do mundo natural ao redor.
Enquanto isso, no presente, a cidadezinha onde vivem os Parker registra uma série inexplicável de desaparecimentos de jovens.
Até que o público junte as três pontas, "Somos o que Somos" investe na textura da imagem, especialidade de Jim Mickle, cujos primeiros trabalhos foram como câmera e desenhista de "storyboard".
A longa temporada de chuvas, acompanhada por uma paisagem brumosa e os tons verdes apagados criam um clima desolado.
A palidez dos corpos e faces dos Parker projeta uma vida de carências explorada com habilidade pela luz baça que domina os ambientes.
A fragilidade maior do filme, contudo, está na transposição da imagem para o ato, quando tem de passar do temor para o terror. No momento de assustar de verdade com uma apoteose "gore", "Somos o que Somos" fica muito aquém do que o público que admira sanguinolências espera. (CSC)
SOMOS O QUE SOMOS
DIREÇÃO Jim Mickle
PRODUÇÃO EUA, 2013
ONDE Playarte Bristol e circuito
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO regular