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Crítica drama

'Educação Sentimental' narra caso de amor e amizade bem distante do vulgar

SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Júlio Bressane é um dos maiores diretores em atividade. São poucos os que fazem, no mundo, um cinema de tamanha qualidade. Manoel de Oliveira é um deles, e talvez seja o cineasta que mais se assemelhe a Bressane, sobretudo nos enquadramentos de perfeita simetria, no valor dado ao texto e no humor.

"Educação Sentimental" narra o caso de amor, amizade, cumplicidade e aprendizado entre a professora Áurea e o jovem Áureo. Tal narrativa, como sempre num filme de Bressane, está muito distante do vulgar.

Como Manoel de Oliveira, o diretor de "A Erva do Rato" dá grande atenção à palavra, o que pode levar a equívocos (cineasta excessivamente literário, dizem alguns, tanto de Bressane quanto de Oliveira). Não se enganem: Bressane é um homem de cinema.

Sua preocupação com a forma é evidente. O uso do espaço é preciso, e por isso ele consegue evitar que o enquadramento seja asfixiante.

Os movimentos de câmera surgem quando estritamente necessários, rompendo a rigidez como um grito, um ruído que surge para abolir o conforto da contemplação.

Há rigor em seu cinema, mas também poesia. Nunca a poesia a qualquer custo, mas aquela que brota naturalmente das situações encenadas. De um papel que emula o fechamento da íris nos filmes mudos, por exemplo. Ou de uma tentativa de fechar uma porta que se transforma em dança sensual.

Áurea mostra peças antigas para Áureo, explicando o contexto em que cada peça foi fabricada e, por vezes, sua origem. É tudo que deseja um professor: encontrar um aluno interessado no que está sendo ensinado.

Ela mostra um pequeno rolo e informa, indo da entonação afetiva para a caricatura do solene: "Um filme, uma película; isto hoje tem um valor arqueológico; estará em breve no museu das sensibilidades perdidas". Começa então a desenrolar o filme na frente da câmera, reproduzindo a magia da imagem em movimento, enquanto tudo ao redor está fora de foco.

Educação sentimental quer dizer, para além da conexão flaubertiana: ensinamento artístico, demonstração de que a sensibilidade para o belo não deve morrer, lamento por um estágio ultrapassado da arte, pelo fim da película.

Mais do que isso: o filme fala de apaixonar-se por arte, num momento em que ela é sufocada por ambições comerciais, contrapartidas de editais ou falta de paixão.

Júlio Bressane é anacrônico, sim. Majestosamente anacrônico.

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
DIREÇÃO Júlio Bressane
PRODUÇÃO Brasil, 2013
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 4, às 20h20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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