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Crítica poesia

Em 'Dever', autor enfrenta o fardo humano com dignidade

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

Se "o horrível dever é ir até o fim", como diz Clarice Lispector na epígrafe do novo livro de poemas de Armando Freitas Filho, "Dever", o poeta não teme cumpri-lo. O dever, para os poetas, é necessariamente horrível: funcionalidade, pragmatismo e a vida, enfim, como tarefa.

Mas Armando Freitas enfrenta esse último fardo do humano com dignidade e explora as coisas até seu fim --temporal e poético. Os poemas de "Dever", livremente rigorosos, começam com a "ampulheta preenchendo as fôrmas das letras/ e de algumas figuras" e terminam com "o que fica fibrilando, na mesma onda/ que se forma desmanchando-se/ é o empenho da mão náufraga".

Mesmo na fronteira perigosa da máxima precisão ou da metalinguagem, Armando Freitas consegue manter a intimidade: "Só sei ser íntimo ou não sei ser". Isso aparece na "paz de volta à água doméstica e ao sabão/ da mãe e do pai", nos "lápis de pontas grossas" apontados pelo pai e nos avós desconhecidos vistos somente na fotografia.

Uma poesia ao mesmo tempo nostálgica e ácida, capaz de despertar empatia, raiva e espanto com a habilidade rítmica do autor. No quebra-cabeças dessa poesia, "como fechar o jogo incompleto, que mostra/ parte de um homem montando um puzzle?"

O jogo não vai fechar, e essa poesia, feita a partir de pedaços, justaposições e montagens, denota justamente essa incompletude. Sempre há a impressão de que falta alguma coisa, de que o "dever comprido/ jamais cumprido" não encontrará o alvo.

Não é uma leitura fácil, mas não seria de se esperar que fosse fácil enfrentar o dever de ir até o fim, sempre se equilibrando no fio da navalha da linguagem e da vida.

DEVER
AUTOR Armando Freitas Filho
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 36 (168 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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