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O espelho da megera
Meryl Streep dá medo e reflete sua geração ao viver a mãe horrível de 'Álbum de Família', que estreia hoje
Mais que qualquer outro ator de sua era, Meryl Streep, 64, refletiu as esperanças e os medos dos seus contemporâneos, que envelheceram em sua companhia e viram suas vidas mostradas em personagens que ela interpretou, década a década.
Esse público poderá se chocar com seu novo papel, o de Violet Weston, a megera adoentada de "Álbum de Família" --versão cinematográfica dirigida por John Wells da peça "August: Osage County", de Tracy Letts, premiada com o Pulitzer.
O filme vem sendo exibido em festivais de cinema em diversos locais dos EUA, e os produtores estão tentando ganhar impulso para a corrida anual das premiações.
Se a personagem não assustar os admiradores de Streep na Academia, ela pode estar a caminho de sua 18ª indicação ao Oscar e de uma quarta vitória.
Assustadora ou não, Violet Weston (é ela que aparece sendo derrubada ao chão por Julia Roberts, no cartaz do filme) mostrará de novo uma Meryl Streep apontando o caminho para uma geração que começa a envelhecer.
Ela é uma mãe infernal (bebe, toma remédios sem parar, dirige devagar demais para o gosto de alguns) que, no fim da vida, decide fazer um acerto de contas com as filhas, situação que provavelmente parecerá familiar aos seus colegas da geração "baby boom" (norte-americanos nascidos entre 1946 e 1964).
"Já pensei muito nisso ao assistir a ela", diz a jornalista Gail Sheehy sobre a correspondência entre os papéis de Streep e as crises de sua geração, que Sheehy descreve em seu best-seller "Passages", sobre psicologia pop.
O diretor, Wells, disse que Streep demonstrara cautela antes de aceitar um papel que tem muito a dizer --nem sempre de forma agradável-- sobre pais envelhecidos e sua relação com os filhos.
"Vou ter de viver essa personagem por tempo considerável; será que é um lugar aonde eu queira ir?'", disse Wells, descrevendo as preocupações iniciais de Streep.