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Beyoncé reinventa maneira de lançar disco

Colocado na internet sem alarde, novo álbum da cantora deve guiar rumo da indústria da música pop em 2014

Em ano que deve ter lançamentos de U2, Madonna, Rihanna e Adele, estratégia marca novo estilo de produção

PETER ROBINSON DO "GUARDIAN"

Identificar a principal tendência do pop em 2014 requer só uma olhada para o fim de 2013, quando Beyoncé expandiu os horizontes com o momento que definiu o ano.

Sem aviso, ela lançou seu quinto álbum, com 17 vídeos musicais (cerca de R$ 30, no iTunes). Em uma era na qual um artista de segundo escalão mal consegue produzir um vídeo sem que o amigo de uma dançarina vaze notícias, Beyoncé executou um milagre moderno ao gravar 17 clipes mantendo o sigilo.

Isso não aconteceu num momento de desatenção --fator que David Bowie teve a seu favor ao promover seu inesperado retorno com "The Next Day", em março do ano passado. Beyoncé conseguiu lançar um álbum de surpresa quando o planeta todo esperava um novo disco seu.

O lançamento em dezembro --e até mesmo o título em maiúsculas, "BEYONCÉ", como se alguém saltasse de trás de um arbusto tocando uma buzina-- significa que o disco chegou tarde demais para entrar na maioria das listas de melhores do ano.

Além de ignorar os críticos musicais, o lançamento tampouco contou com divulgação em rádio ou na TV; não houve nem mesmo "teasers", amostras on-line prévias a fim de aguçar os apetites.

A estratégia de lançamento do álbum era retratá-lo como um corajoso salto ao desconhecido da parte de uma superestrela disposta a derrubar barreiras num momento no qual outros músicos parecem reforçá-las.

A decisão de lançar um álbum muito esperado de forma inesperada funcionou para Beyoncé, e o disco vendeu 430 mil cópias em um dia, e isso só nos Estados Unidos.

MADONNA E RIHANNA

Com isso, será que 2014 verá artistas de várias formas e tamanhos lançando seus álbuns na rede? U2, Adele, Madonna, Rihanna e One Direction devem lançar álbuns em 2014; eles e outros podem tentar imitar o sucesso de Beyoncé, mas a maioria dessas tentativas fracassará.

O grande triunfo da cantora não foi lançar disco sem marketing, tampouco explorar a vertente da "falta de marketing como marketing", mas --para usar a imagem favorita de muitos fãs da cantora-- tirar da careca da derrota a peruca da vitória. O álbum deveria ter saído em meados do ano, mas não se materializou, e os produtores continuaram a trabalhar.

Beyoncé guiou o complicado processo de produção e conseguiu dominar o lançamento. Ao mesmo tempo, abriu mão do controle sobre aquilo que a indústria da música mais gosta, enquanto todo o resto muda: a ideia de que grandes álbuns precisam de lançamentos grandiosos.

Comparados ao lançamento-relâmpago de Beyoncé, dois outros grandes álbuns pop de 2013 --"Prism", de Katy Perry, e "ARTPOP", de Lady Gaga-- parecem ridiculamente cafonas. Katy Perry divulgou o seu com um caminhão dourado nas ruas de Los Angeles; Gaga começou a divulgar amostras de seu trabalho em 2012. Os dois vieram acompanhados de vídeos prévios, downloads de faixas antecipadas e um monte de outras bobagens --com resultados medíocres.

A bênção e a maldição de ser uma estrela pop que define a era digital, como Gaga e Perry, é que, embora seja possível usar o Twitter para informar aos seus 40 milhões de seguidores sobre um novo álbum, a maioria deles é parte de uma geração para quem a ideia de comprar música é completamente ridícula.

É relevante que Eminem e Justin Timberlake tenham conseguido grandes vendas na semana de lançamento de seus álbuns em 2013: os fãs dos dois cresceram na era da compra de CDs. Talvez, em 2014, fãs e críticos também possam recalibrar sua ideia do que é sucesso, deixando de lado o critério de vendas.

Beyoncé e Bowie restauraram o entusiasmo da indústria da música, cujos trabalhadores muitas vezes estão tão entediados quanto os fãs. Entediados por traços repetitivos da música, por campanhas de marketing iguais para todos os lançamentos, pelo excesso de ruído.

O salva-vidas que Beyoncé oferece aos superastros que retornarão em 2014 é a mensagem de que, por mais complexa que seja sua música, busque clareza. Se algo está dando errado, fique quieto e repense. E, se quer que se interessem por seu retorno, é preciso antes que tenha ido a algum lugar. Se nada disso funcionar, tente saltar de trás de um arbusto tocando uma buzina. Bono, é sua vez.


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