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Crítica - Drama

Dinamarquês retrata sexualidade sem afeto, mas em busca de sentido

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Antes, as pessoas cultivadas diziam não assistir aos filmes brasileiros "porque só têm sexo". Agora, será o caso de inverter o discurso: não verão filmes brasileiros "porque só eles não têm sexo".

É o que nos deixam os estrangeiros "Azul É a Cor Mais Quente", "Um Estranho no Lago" e, agora, "Ninfomaníaca", primeira parte do pornô prometido pelo dinamarquês Lars von Trier --e que completaria o que já denominaram "trilogia da depressão" (com "Anticristo" e "Melancolia").

São filmes que solapam a cuidadosa arquitetura da indústria (americana, em particular), em que o normal e o pornô devem fingir que são de mundos diferentes, como se a sexualidade só pudesse ser exercida verbalmente.

Com uma hora e cinquenta minutos, esta é a primeira parte das aventuras de Joe --a segunda terá duas horas e dez minutos, mas trata-se, no dizer de Von Trier, mestre do marketing cinematográfico, de "versão censurada".

Joe (Charlotte Gainsbourg) é encontrada num beco por Seligman (Stellan Skarsgard), sensível o bastante para acolher a mulher batida e abatida. E não uma qualquer: Joe garante-lhe que não é exatamente uma boa menina.

A primeira parte do filme vai se dedicar às experiências eróticas que Joe narra e Seligman tenta compreender. Para Joe, a sexualidade se mostrará evidente e misteriosa, prazerosa e tortuosa.

Podemos observá-la em dois aspectos: a iniciação sexual é o mais estranho deles, pois envolve uma competição, com uma amiga, para ver quem transa mais durante uma viagem de trem.

Estamos, portanto, longe da ideia de afeto, mas também da de prazer. Assim como em "Anticristo" e "Melancolia", parece haver algo de irrecuperável no humano. A sexualidade, em Joe, não é angústia, felicidade, gozo. Não é nada, a rigor. É um ato desprovido de sentido, embora sempre em busca de sentido.

O segundo aspecto, ao contrário, é carregado de sensibilidade e envolve a infância, a ligação com o pai e a falta de ligação com a mãe. Ligações pesadas, à maneira nórdica, de que resultará uma das cenas mais fortes, no leito de morte do pai (Christian Slater).

Algo de muito próprio no cinema de Von Trier, além do humor, se manifesta com clareza: as relações pessoais, em particular as familiares, são movidas por forças incontroladas (talvez incontroláveis), misteriosas, que se manifestam sob as convenções.

Isso faz delas eventos muito particulares e, em especial em "Ninfomaníaca", daqueles que o espectador tateia, em busca de um significado, mas nunca escapa ao encantamento estranho das imagens.

Em "Ninfomaníaca", o que se vê são cenas de "pornô soft". Versão censurada? Talvez. Em todo caso, nessa fase mais juvenil de Joe, quem se destaca é Stacy Martin, atriz de uma beleza que lembra Sylvia Kristel, artista que teve a carreira arruinada pelas cenas de sexo de "Emmanuelle". Espera-se que Martin tenha sorte melhor.


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