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Ai Weiwei usa flores para protestar contra restrições do governo chinês

Proibido de deixar o país, artista coloca arranjos em bicicleta diante de seu ateliê, em Pequim

'Cada vez que perguntei sobre meu passaporte, eles disseram que o devolveriam. Mas já se passaram três anos', diz

DIDI KIRSTEN TATLOW DO "NEW YORK TIMES"

O artista e dissidente Ai Weiwei coloca flores na cesta de uma bicicleta diante de seu ateliê em Pequim diariamente desde 30 de novembro, em protesto contra a retenção de seu passaporte pelo governo chinês.

Uma exposição programada para abril no Brooklyn --reprise de uma mostra no Hirshhorn, em Washington, intitulada "Ai Weiwei: According to What?"(Ai Weiwei: de acordo com o quê?)-- e outra em setembro no antigo presídio de Alcatraz, na Califórnia, se beneficiariam se ele pudesse fazer a curadoria nos próprios locais, segundo ele.

Mas, num gesto contra seu confinamento, Ai está levando adiante os planos para abrir um estúdio em Berlim, dizendo que isso será pelo menos um símbolo de seu desejo de voltar a trabalhar fora da China algum dia.

Detido em abril de 2011, Ai passou 81 dias na cadeia. Agora, ele é autorizado a sair em Pequim, mas, disse, "cada vez que saio, tenho que dizer a eles onde vou".

O artista comenta, em entrevista ao "New York Times" feita em seu ateliê, como é viver enjaulado num país que ele diz amar, mas do qual não pode sair.

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Pergunta - Por que você põe flores lá fora todo dia às 9h da manhã?
Ai Weiwei - Nove da manhã é quando começo a trabalhar. Ponho as flores na cesta, faço fotos e as coloco na internet.

Por que flores?
Acho que flores são a linguagem mais comum. Para começo de conversa, elas falam da vida. E eu uso flores frescas. Flores novas a cada dia. Neste tempo frio, elas podem durar apenas um dia.

O que elas significam?
São uma obra de arte minha que está muito poderosamente ligada à minha vida. Desde 3 de abril de 2011, quando fui levado e detido em um local secreto, até hoje, não tenho passaporte.
Cada vez que perguntei sobre meu passaporte, disseram que o devolveriam. Mas nunca o fizeram, e já se passaram quase três anos.
Então essa é uma razão, mas não é a razão inteira. Esta é uma sociedade que afirma obedecer às leis. Quando um governo põe uma pessoa em detenção forçada, como fez comigo, o que ele faz não é legal. No mínimo, é contra o espírito da lei.
Ninguém tem o direito de restringir onde uma pessoa vive, de restringir sua possibilidade de movimento. Quando desembarco de um trem, há pessoas lá para me fotografar. Se entro em um hotel, elas me seguem.

Qual é o sentimento mais profundo que essa situação gera?
Nossa maior preocupação neste país é que só vemos o que acontece, mas jamais sabemos a razão. Aquela bicicleta pertencia a um jovem alemão. Ele foi preso, mas nunca oficialmente, por mais de dez meses, acho.
Ele trabalhava para uma empresa alemã de transporte de obras de arte, e o governo alemão se esforçou para tirá-lo da prisão. Ele já saiu, está na Alemanha outra vez.
Antes de partir, ele entregou a bicicleta a um jornalista alemão, dizendo que queria dá-la a mim. Ele não tinha feito nada de errado, e o mantiveram trancafiado. O governo o acusou de contrabando, mas o motivo real era que as autoridades queriam abrir uma zona franca de arte e queriam tomar conta de seu negócio.
Eu mesmo tinha acabado de sair da detenção. Pensei: "O que posso fazer com esta bicicleta?". Comprei uma trava muito forte e prendi a bicicleta a uma árvore diante da porta de minha casa.
É exatamente como o tipo de bicicleta que se vê em qualquer lugar do mundo. Às vezes elas são abandonadas; em Nova York vê-se isso o tempo todo. Na China, o dono dela pode ter sido levado pelo governo, ou algo assim, então a bicicleta é muito simbólica. Por isso decidi colocar flores nela, e farei isso todos os dias até receber meu passaporte de volta.
Quando fui detido, cobriram minha cabeça com um capuz e me levaram para um local secreto. "Por que sou tão burro?", pensei. Eu poderia ter passaporte americano.
Vivi 12 anos nos Estados Unidos. Mas, depois que voltei, eu não estava ansioso por ir embora. Sinto que tenho muito a fazer aqui. Minha família está aqui. Já cheguei a pensar "no dia em que vocês me devolverem meu passaporte, talvez eu o rasgue diante de vocês. Vocês não podem me tirar isso. Essa escolha é minha, não de vocês".
Tenho uma exposição no Brooklyn em abril, e já morei em Nova York, então é claro que eu gostaria de ir para lá. É um lugar muito importante em minha vida. Eu gostaria de fazer a exposição ser realmente boa, gostaria de interagir com o público.

Se sair daqui, outra pessoa colocará as flores na bicicleta por você?
Sim.

A polícia já fez algo contra as flores?
Não. Ela não vem mais criar problemas para mim. Antes, telefonava todos os dias, agora, não mais.


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